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Introdução

De acordo com Morgan e DeFrancesco (2022), o tema de um texto é um constructo abstracto. Os alunos, quando lêem um texto, são por vezes desafiados a ler o que não está escrito. É exactamente nessas situações que os leitores devem ser capazes de interpretar o tema do texto.

No que consiste, exactamente, o tema do texto? Morgan e DeFrancesco (2022) definem «tema do texto» como as mensagens sobre a experiência humana que oferecem aos leitores conselhos sobre a vida em geral. A interpretação do tema do texto requer que os alunos extraiam e construam significado, sem referir personagens ou acontecimentos da história. Ao fazê-lo, os alunos estão a interpretar o texto escrito a partir, por exemplo, de acontecimentos, comentários e experiências das personagens. Os alunos são assim responsáveis por interpretar ou elevar a história para a vida real.

Como interpretar um texto a partir da formulação de temas?

Muitos alunos pensam que o tema do texto está no final do livro. Por essa razão, não prestam atenção a informações ou detalhes importantes fornecidos pelos autores ao longo do texto, prejudicando significativamente a compreensão da leitura. Por isso, é fundamental alertar ou demonstrar aos alunos a importância de prestar atenção às acções das personagens desde o início da história (Figura 1).

De acordo com Morgan e DeFrancesco (2022), as informações ou detalhes importantes da história podem aparecer de diversas formas. Os autores apresentam sete elementos sobre os quais os alunos podem reflectir durante a interpretação de um texto ou que os professores podem discutir com os alunos na sala de aula. Os elementos são os seguintes:

1. traços de carácter inicial e final — Os traços de carácter inicial e final ocorrem quando o carácter da personagem muda ao longo da história, isto é, quando a personagem que o leitor encontra no início da história não é a mesma no final. Segundo Morgan e DeFrancesco (2022), os alunos podem fazer comparações entre o início e o final da história em termos de comportamento, pensamentos e palavras da personagem, para apoiar a interpretação do tema do texto. Os alunos podem ainda questionar a forma como o percurso da personagem se relaciona com a vida real;

2. momentos ah-ha — De acordo com a literatura, estes momentos ocorrem quando a personagem aprende ou compreende algo que não sabia ou entendia, por exemplo, descobre como resolver determinado problema. Por outras palavras, a personagem tem um momento «fez-se luz» (no inglês, light-bulb). Nestes momentos, os alunos podem questionar o significado destes acontecimentos para a personagem;

3. palavras do sábio — As palavras do sábio ocorrem quando uma personagem, geralmente a mais sábia e, por vezes, mais velha aconselha a personagem principal. Nestes momentos, os alunos podem reflectir acerca da reacção da personagem principal e questionar como responderiam se estivessem numa situação semelhante;

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Figura 1. Distribuição de informação ou detalhes da história ao longo do texto

4. examinar os erros das personagens — Segundo Morgan e DeFrancesco (2022), as personagens cometem frequentemente erros ao longo da história. Por isso, chamar a atenção dos alunos para esses erros pode ajudá-los a formular o tema do texto;

5. questões acerca do mundo real — Alguns livros ilustrados abordam questões sociais. Tal como Morgan e DeFrancesco (2022) referem, os alunos podem reflectir, a partir das experiências das personagens, sobre como estas questões os afectam e, não menos importante, como as personagens reagem a tais circunstâncias. Estes momentos constituem oportunidades de aprendizagem, uma vez que os alunos podem aprender a lidar com questões como o racismo e a pobreza;

6. humor e símbolos — Os autores podem moldar o humor da história de diversas formas. Segundo Morgan e DeFrancesco (2022), os alunos podem analisar as ilustrações, observando, por exemplo, as expressões faciais das personagens, a linguagem corporal e a proximidade física. Os autores podem fazê-lo também a partir de palavras.

À semelhança do humor, os símbolos podem apoiar a formulação de temas. Estes elementos podem ser captados através das ilustrações, que podem representar o humor das personagens em diversos pontos da história. Por exemplo, enquanto cores escuras podem representar sentimentos negativos, cores vivas e vibrantes podem exprimir sentimentos positivos;

7. títulos e terminações — Os alunos podem formular o tema do texto a partir do título e de como o livro termina. Podem, especificamente, analisar a relação do título do livro com o desenvolvimento da história. Da mesma forma, os alunos podem analisar a última página do livro, o último parágrafo ou a última frase. O objectivo desta análise não é encontrar a resposta «correcta», mas sim reflectir sobre a razão do autor para definir determinado título, final da história, e, não menos importante, a relação destes elementos com o tema do texto.

Na Tabela 1, são apresentadas algumas questões que podem ser colocadas durante a interpretação do texto.

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Tabela 1. Distribuição de informação ou detalhes da história ao longo do texto

Considerações finais

De acordo com Morgan e DeFrancesco (2022), a discussão sobre estes elementos pode ajudar os alunos a perceberem de que forma um único elemento ou a combinação de elementos apoia a formulação do tema do texto. No entanto, é fundamental ter em conta os seguintes aspectos:

  1. a lista de elementos apresentada não é exaustiva, nem todos os elementos estão necessariamente presentes em cada livro. Além disso, a importância de cada elemento varia de acordo com o texto e ao longo da história;
  2. nem todos os livros proporcionam oportunidades de exploração temática;
  3. a interpretação dos alunos é geralmente diferente da interpretação dos adultos, uma vez que se baseia, na grande maioria das vezes, nas experiências pessoais. A formulação de temas é, por isso, subjectiva, ou seja, não existem respostas certas nem erradas.

AUTORES

João Lopes

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João Arménio Lamego Lopes dirige o projeto AaZ – Ler Melhor, Saber Mais. Licenciado em Psicologia pela Universidade do Porto (1981), Mestre em Psicologia da Educação e do Desenvolvimento (Universidade do Porto, 1991) e doutorado em Psicologia da Educação pela Universidade do Minho (1996). Professor da Escola de Psicologia da Universidade do Minho desde 1995.

Professor Associado com Agregação, da mesma Universidade (2004). Director do Departamento de Psicologia Aplicada (2015-2019) e do Mestrado em Temas de Psicologia da Educação da UM. Director do Programa de Doutoramento em Psicologia Aplicada para os países da CPLP. Presidente do Conselho Cientifico-Pedagógico da Formação Contínua de professores (2014-2018), representante de Portugal no CERI-OCDE (2015-2017) e membro do Conselho Geral do IAVE (2013-2018).

Soraia Araújo

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Soraia Araújo é doutoranda em Psicologia Aplicada, na Escola de Psicologia da Universidade do Minho. Licenciou-se em Psicologia, em 2018, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, e concluiu o Mestrado em Psicologia Aplicada, em 2020, na Universidade do Minho.

Integra o Grupo de Investigação em Problemas de Aprendizagem e de Comportamento, do Centro de Investigação em Psicologia da Universidade do Minho, desde 2019, aquando da realização da sua dissertação de mestrado, intitulada “Formação Contínua de Professores: Necessidades, Participação e Barreiras”. No mesmo grupo de investigação, encontra-se a desenvolver a sua tese de doutoramento sobre as dificuldades de aprendizagem inicial da leitura. Integra, ainda, o Programa AaZ – Ler Melhor, Saber Mais, onde colabora, essencialmente, na escrita de textos de apoio sobre o ensino da leitura, dirigidos a professores do 1.º Ciclo do Ensino Básico.

Os seus interesses de investigação centram-se na área da Psicologia e da Educação. Especificamente, ensino da leitura e escrita, dificuldades de aprendizagem, perturbações do neurodesenvolvimento, métodos de ensino e formação de professores.

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