A autoridade do professor assenta num equilíbrio subtil entre compreensão e exigência, e é essencial para fomentar um ambiente de tranquilidade na sala de aula. Com autoridade, os alunos empenham-se na aprendizagem, estabelecendo-se uma relação de confiança duradoura entre estudantes e professor.
A autoridade é uma competência profissional essencial para lecionar e uma das que os docentes devem ganhar e dominar para exercer a profissão. Mas como se pode exercer esta autoridade? Os documentos normativos habitualmente não definem um enquadramento concreto para esse exercício.
E com razão: segundo Bruno Robbes, «a autoridade inventa-se, experimenta-se e constrói-se em situação e em contexto». Ou seja: não há nenhuma solução universal para exercer a autoridade, e é difícil enumerar à partida as respostas e os mecanismos adaptados a cada situação. E porquê? Porque a autoridade é uma prática individual. Cada professor estabelece autoridade em função da sua própria personalidade, do seu grupo de alunos e de contextos determinados. O que resulta com um professor não resulta necessariamente noutro contexto com outro professor. O que funciona com um aluno não funciona necessariamente com outro aluno, pode não funcionar sequer no dia seguinte.
Cabe ao professor estabelecer uma relação de autoridade, indispensável para criar um ambiente sereno na sala de aula, propício à aprendizagem. Mas que fazer em concreto? Toda a autoridade em sala de aula exige consideração mútua, bem como confiança dos alunos no professor e na escola.
Exercer a autoridade pela confiança
O exercício da autoridade na sala de aula evoluiu muitíssimo ao longo dos anos. A autoridade hoje, segundo alguns, já não é pura imposição: constrói-se na sala de aula e na relação do professor com a turma. A coação deve ser vista como último recurso e, em certo sentido, pode representar uma falência da autoridade.
Como se constrói a autoridade? Segundo Marie Beretti na obra L’Autorité par la confiance: un modèle de relation éducative: «Um professor pode esforçar-se por promover o reconhecimento e a aceitação da autoridade nos alunos, pretendendo assim que adiram a ela. Na verdade, a obediência depende também de uma condição prévia: que os alunos reconheçam a legitimidade da autoridade que sobre eles é exercida. O professor do século XXI deve procurar legitimar a sua autoridade aos olhos dos alunos, preocupando-se com o ponto de vista deles, com o que sentem, interpretam e vivenciam.»
Exercer autoridade pela confiança consiste em estabelecer uma relação positiva e autêntica com os alunos. O professor torna-se uma pessoa confiável e compreensiva, consegue instaurar um ambiente de tranquilidade propício à aprendizagem. Esta abordagem pretende inspirar nos alunos a confiança natural, fomentando a adesão espontânea às regras e o respeito pela autoridade. Por oposição a um método excessivamente rigoroso ou autoritário, muitas vezes fonte de tensão ou inútil perante comportamentos difíceis, a autoridade pela confiança alicerça-se no diálogo e na compreensão.
Na prática
O professor que exerce a autoridade pela confiança tem de interrogar aspetos fundamentais como a postura profissional, o discurso e a abordagem educativos, o relacionamento com os alunos, e os mecanismos pedagógicos e estratégias de gestão letiva. Para confiar no professor, o aluno deve reconhecer a competência pedagógica do professor, deve sentir que pode contar com ele, que aprende e evolui com ele. Eis alguns eixos de reflexão.
— O professor posiciona-se enquanto adulto de confiança. Para estabelecer uma relação de confiança com os alunos, o professor tem de se posicionar como adulto de referência, simultaneamente leal e compreensivo. Estas qualidades dão mais força à credibilidade do professor, promovendo na sala de aula um ambiente positivo e permitindo construir sólidas relações de respeito com os alunos.
— O professor permite aos alunos situarem-se de maneira objetiva em relação às expectativas pedagógicas. É indispensável que os objetivos de cada avaliação sejam claros e exatos. Pretende medir-se o progresso dos alunos e acompanhá-los no seu percurso de aprendizagem, ultrapassando dificuldades e promovendo o seu sucesso. Para tal, o professor deve comunicar antecipadamente os critérios de avaliação, definir claramente os objetivos pretendidos, associá-los em formas diferentes de avaliação (avaliações de diagnóstico, formativas, sumativas e de certificação) e, sobretudo, comunicá-las aos alunos.
— O professor deve fazer progredir cada aluno. Dois dos grandes inimigos da confiança educativa são o tédio e a sensação de abandono. Logo, a atenção do professor deve procurar dirigir-se a todos os alunos, por vezes individualmente, considerando o seu grau de preparação e necessidades específicas, para aspirar ao sucesso de todos. Por vezes, isso supõe aplicar-se metodologias de aprendizagem específicas, adaptadas aos objetivos, ao contexto e às necessidades dos alunos.
— O professor deve favorecer a autonomia dos alunos. A autonomia reforça naturalmente a confiança educativa. Além disso, depois de explicar a atividade e estabelecer os objetivos, o professor deve deixar os alunos realizarem a atividade autonomamente. De vez em quando, pode ainda dar-lhes a possibilidade de tomarem a iniciativa, de fazerem escolhas, de usarem o conhecimento que adquiriram e irem eles próprios procurar os instrumentos necessários para cumprir a atividade. Por exemplo, o uso de planos de trabalho aumenta a autonomia, dadas as escolhas, os movimentos e as exigências que se fazem: o aluno aprende assim a gerir sozinho o seu tempo e recursos. O professor não deve hesitar em prever um exercício suplementar para os que terminam a atividade mais rapidamente, pois é importante entender o ritmo de cada aluno.
— O professor deve desenvolver a entreajuda, a cooperação e a mediação dos pares, sobretudo em trabalhos de grupo e tutorias.
— O professor deve alimentar um sentimento de pertença, valorizando os esforços e progressos coletivos. Para emergir a confiança em sala de aula, é necessário estabelecer um ambiente positivo entre os alunos, mostrando-lhes que estão comprometidos, coletiva e solidariamente, com um mesmo objetivo: o sucesso. São estratégias fáceis para cultivar o sentimento de pertença dizer o nome do aluno nos exercícios propostos, fazer trabalhos de grupo com uma divisão clara das tarefas de cada um, convidar os pais a irem à escola, etc.
Em suma
A autoridade em sala de aula não é inata, nem está somente associada a um estatuto. Para estabelecer autoridade ou se fazer respeitar, não basta o professor apresentar-se aos alunos como a pessoa responsável por ensinar. Estabelecer a autoridade na sala de aula e conseguir que essa autoridade seja reconhecida exige tempo, experiência e aprendizagem constante. Bruno Robbes identifica os quatro princípios de ação que devem orientar o estabelecimento da autoridade do professor na sala de aula: interpretar com exatidão as intenções dos alunos, saber discordar (nomeadamente em situações de tensão), ser capaz de reconhecer os erros e respeitar os alunos pelo que são.
Também não se deve subestimar a importância dos pequenos gestos e da postura profissional do professor. O olhar, a maneira como se desloca, o tom de voz e a escolha de palavras têm impacto considerável na dinâmica da turma. Jean Duvillard explica como a articulação entre a postura e os pequenos gestos pode evitar potenciais conflitos, reforçando uma autoridade baseada na confiança.
O professor deve, acima de tudo, persistir! Recorrer ao humor e ironizar consigo próprio podem ser os melhores aliados do professor, para ser capaz de estabelecer uma relação de confiança com os alunos. O professor não deve hesitar em testar abordagens diferentes, de maneira a descobrir as mais adequadas à sua personalidade e às necessidades da turma. As práticas, com o tempo e com a experiência, vão evoluindo. O professor descobrirá os seus próprios métodos para estabelecer uma autoridade reconhecida e aceite, que evite precisar de se impor
Este texto é uma adaptação do artigo «Gestion de classe : l’autorité par la confiance», disponível aqui. Esta adaptação resulta de uma parceria editorial com o CSEN - Conseil Scientifique de l'Éducation Nationale.
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