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A inclusão de crianças e jovens refugiados ou requerentes de asilo é uma realidade com que vários sistemas de ensino têm deparado. O tema ganhou especial relevância desde a crise migratória do Mediterrâneo e, mais recentemente, com o acolhimento de refugiados do Afeganistão e da guerra na Ucrânia. Todavia, a recolha de dados e medição dos seus resultados escolares tem-se revelado um desafio, apesar da importância desta informação para a capacidade de resposta dos diferentes sistemas de ensino às necessidades destes alunos vulneráveis.

Um documento de trabalho do Education Policy Institute, publicado em dezembro de 2021, analisou os resultados escolares de crianças refugiadas e requerentes de asilo em Inglaterra. Com acesso a dados de 2017, o estudo compara estes dados com os de mais de meio milhão de alunos não migrantes no final do «Year 11», ou seja, alunos entre os 15 e os 16 anos. O estudo foca-se primeiro nos resultados de exames de fim de ciclo nas diferentes disciplinas, olhando depois para as faltas e exclusões escolares.

Quanto aos resultados dos exames de fim de ciclo, as conclusões preliminares apontam que as crianças requerentes de asilo que não se encontram acompanhadas pelos pais apresentam um atraso muito substancial. Medindo este retrocesso na aprendizagem com um critério temporal, o estudo indica que estas crianças têm 37,4 meses de atraso em relação aos restantes alunos não migrantes. Já no que diz respeito a crianças com estatuto de refugiado ou direito de asilo esse fosso é estimado em 17,3 meses de atraso em relação aos não migrantes. Trata-se de uma diferença equivalente à que se observa na relação entre os alunos mais pobres e mais ricos da mesma idade em Inglaterra.

Por outro lado, no cenário do absentismo escolar os resultados são muito mais positivos, apresentando percentagens de faltas e exclusões bastante mais semelhantes às dos alunos não migrantes.

A recolha e análise de dados deste tipo tem uma enorme e crescente importância, na medida em que providencia aos sistemas de ensino a evidência científica para sustentar a adoção de políticas públicas. Com base nestes dados, os agentes educativos poderão tomar decisões informadas e eficazes, podendo alocar os recursos e apoios necessários para a evolução escolar e integração social destes alunos. Assim, no caso apresentado neste texto, os dados disponibilizados parecem apontar para a necessidade de investir mais na melhoria dos resultados escolares do que no combate às faltas em sala de aula.

Seja como for, a integração destes alunos envolve um enorme esforço do sistema educativo como um todo. Também inclui um trabalho interno na organização administrativa de suporte dentro das escolas. Por exemplo, no que diz respeito ao reforço e adaptação de competências de ensino da língua, cultura, saúde mental (incluindo um grande número de situações de trauma) e apoio familiar dos alunos.

Desde agosto de 2021, o Reino Unido acolheu mais de 15 000 pessoas vindas do Afeganistão, sendo uma parte significativa crianças que foram integradas no sistema de ensino através da operação Warm Welcome, com um investimento de 12 milhões de libras no presente ano letivo.

Face à situação atual da Ucrânia, além dos desafios no terreno que são geridos em sistema de «educação em situação de emergência», é expectável que um grande número de alunos seja assimilado, ainda que temporariamente, noutros países europeus vizinhos. Enquanto o Reino Unido se prepara para acolher em pouco tempo mais de 100 mil alunos ucranianos, uma primeira solução passa pela tradução para ucraniano das ferramentas digitais e de 10 mil aulas online que foram criadas para professores e alunos durante o fecho de escolas causado pela pandemia.



As opiniões expressas neste artigo são exclusivamente do autor e não refletem os princípios ou posições das organizações às quais está associado.

Bibliografia

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AUTOR

Miguel Herdade é Director Associado no Ambition Institute no Reino Unido e governador de uma escola primária em Londres. É também Director e co-fundador da Orquestra Sem Fronteiras, em Portugal e Espanha. Tem especial interesse e experiência no financiamento, concepção, e implementação de projectos e organizações sem fins lucrativos que actuam nas áreas de desigualdades educativas e integração social. Foi professor assistente na Nova SBE – School of Business and Economics e co-fundador e Director Executivo da Academia do Johnson, na Amadora. Posteriormente trabalhou no The Challenge/National Citizen Service no Reino Unido.

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