A omnipresença de computadores, smartphones e dispositivos digitais caracteriza as sociedades modernas, pelo que é crucial dominar as tecnologias de informação e comunicação (TIC). As crianças que já nasceram neste século provavelmente nunca conhecerão uma realidade onde a tecnologia digital não esteja presente!
Desde 2013 e a cada cinco anos, a International Association for the Evaluation of Educational Achievement (IEA) realiza uma avaliação a alunos do 8.º ano, o International Computer and Information Literacy Study (ICILS), que analisa a literacia em computação e informação. Esta literacia é definida como a capacidade de os alunos utilizarem computadores para investigar, criar e comunicar, permitindo uma participação eficaz em diversos contextos educacionais e sociais.
A pandemia de COVID-19 impulsionou o uso de tecnologias digitais no ensino remoto de emergência, levando alguns especialistas a sugerir que o domínio do digital pelos alunos possa ter melhorado devido ao uso forçado de novas plataformas e ferramentas. Esta experiência poderia ter não só aumentado a literacia digital, mas também promovido habilidades sociais e de trabalho em equipa. Os resultados do ICILS 2023, que serão divulgados em 12 de novembro, vão permitir — por comparação com os dados do ICILS 2018 — avaliar o impacto do ensino remoto neste domínio digital no caso dos alunos forçados a usar estas tecnologias durante o 5.º e o 6.º ano, na altura do encerramento das escolas.
Como é avaliada a literacia digital no ICILS?
A literacia de computação e informação no ICILS 2023 é avaliada através de testes práticos e questionários, que medem competências digitais em várias áreas, nomeadamente na «compreensão do uso do computador», na «recolha e avaliação de informação» na internet, na «criação de conteúdos digitais», na «comunicação digital» e, opcionalmente, no «pensamento computacional». O último domínio avalia a capacidade de reconhecer componentes de um problema do mundo real para o formular computacionalmente. A figura 1 ilustra uma atividade deste domino — o drone agrícola — que apareceu no estudo de 2018. Nesta atividade, os alunos analisam dados de um drone para monitorizar a saúde das plantas e as necessidades de rega e adubação, tendo de programá-lo para realizar as diferentes atividades.

Figura 1. Drone agrícola — atividade avaliada no ICILS 2018
As tarefas práticas do ICILS permitem avaliar a literacia digital de forma abrangente, focando-se na capacidade de operar dispositivos e na aplicação crítica e criativa da tecnologia. Além dos testes práticos, os questionários respondidos por alunos, professores e diretores fornecem informações sobre os contextos de aprendizagem, assim facilitando comparações internacionais. A avaliação do ICILS 2023 medirá não só o domínio do ambiente digital, mas também fornecerá o contexto — pós-covid-19 — que ajuda a compreender como esse domínio se desenvolve em diferentes ambientes educativos.
Resultados do ICILS 2018
Portugal participou em 2018 pela primeira vez no ICILS. Os alunos portugueses, numa escala de 0 a 1000 pontos com média de 500 pontos, obtiveram 516 pontos na literacia de computação e informação e 482 no pensamento computacional. Estes resultados deixaram os alunos portugueses na sétima posição da lista ordenada dos 14 países participantes a literacia de computação e informação, mas na penúltima posição do pensamento computacional na lista dos oito países que realizaram este domínio opcional. Um terço dos alunos portugueses revelou apenas capacidades básicas na utilização dos computadores e informação e apenas só 1% alcançou o nível de proficiência mais elevado.
Dois terços dos alunos portugueses reportaram usar um computador há cinco anos ou mais, mas a grande maioria não o utilizava para fins escolares. A covid-19 terá reforçado o uso de computador em atividades escolares?
Os professores reportaram usar as TIC na sala de aula, mas pouca confiança na utilização de plataformas de gestão de conteúdos escolares, criticando a fraca promoção das TIC em ambiente escolar e o mau acesso à internet.
E a pandemia?
O ICILS 2018 mostrou que em Portugal, como noutros países, a simples disponibilização de tecnologias de informação e comunicação não era suficiente para desenvolver competências avançadas de literacia digital. Com a pandemia, as escolas foram encerradas em 2019 e 2020, forçando a adoção do ensino remoto de emergência e o uso intensivo de plataformas digitais. Terá este período tido implicações significativas na literacia digital de alunos e professores?
Os professores precisaram de se adaptar rapidamente a novas ferramentas de ensino, tais como plataformas de videoconferência e ambientes virtuais de aprendizagem, enfrentando uma curva de aprendizagem íngreme. Esta adaptação permitiu-lhes desenvolver competências digitais que antes não faziam parte do seu dia-a-dia pedagógico? Os alunos, habituados ao ensino presencial tradicional, também tiveram de se ajustar a novas formas de aprendizagem, utilizando materiais online e participando em aulas virtuais, o que pode ter melhorado as suas habilidades de navegação e comunicação digital. Contudo, a desigualdade no acesso a dispositivos e à internet afetou a experiência de muitos, o que levanta questões sobre a equidade no ensino digital.
O ICILS 2023 surge como o primeiro estudo sobre literacia digital pós-pandemia. Será que a valorização e o uso intensivo de tecnologias durante a pandemia levaram a uma melhoria no domínio dos instrumentos digitais de alunos e professores? A experiência do ensino remoto teve um impacto positivo e duradouro nas competências digitais da comunidade escolar? No dia 12 de novembro, saberemos….
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