Para pensar fora da caixa, é preciso ter uma caixa

Durante algum tempo houve quem dissesse que os dados das avaliações internacionais, tais como o PISA, o TIMSS e o PIRLS, se esqueciam de aspetos fundamentais da educação das crianças e jovens como, por exemplo, a capacidade de colaboração em equipas, o espírito crítico e a criatividade.

Estes inquéritos internacionais, contudo, incluem questões que permitem conclusões parcelares sobre essas capacidades ou destrezas dos jovens. Sendo estes tópicos certamente mais fluidos e controversos, as respostas são menos conclusivas e abrem caminho à especulação.

Muita gente tem conjeturado, por exemplo, que os países mais bem situados no PISA, nomeadamente os países do Sudoeste Asiático, teriam uma educação menos criativa e os seus estudantes poderiam ter desempenhos melhores em cálculo e ciência, mas não conseguiriam competir com os ocidentais em criatividade.

É uma ideia muito comum, a de que o conhecimento e o estudo de matemática e de matérias científicas não fariam desenvolver o espírito crítico e a criatividade. Pelo contrário, o estudo intensivo, exigente e sistemático das escolas academicamente mais rigorosas mataria a imaginação.

É uma ideia errónea, contudo. Sabe-se hoje que o espírito crítico, o trabalho de equipa, a criatividade e outros destes chamados soft skills se desenvolvem na base do conhecimento. Não se pode ser crítico em temas que se desconhecem, não se pode trabalhar em equipa sem objetivos claros, não se pode ser criativo no vácuo.

Sabe-se hoje que o espírito crítico, o trabalho de equipa, a criatividade e outros destes chamados soft skills se desenvolvem na base do conhecimento

O estudo PISA 2022 teve como domínios principais a leitura, a matemática e a ciência, como acontece desde 2006. E acrescentou um domínio, como tem acontecido também desde essa data, em caráter rotativo. Desta vez, foi a criatividade.

Pediu-se aos alunos que desenhassem figuras recorrendo à sua imaginação, criassem diálogos de histórias inventadas, construíssem explicações plausíveis para observações em paisagens, inventassem títulos para ilustrações e completassem outras atividades criativas.

As conclusões desta parte do inquérito foram agora divulgadas. Tem resultados muito curiosos. O mais interessante, talvez, foi a alta correlação que se encontrou entre a qualidade do desempenho matemático dos alunos de um país e o grau de criatividade desses mesmos estudantes. É o que foi registado no gráfico que abaixo reproduzimos. Em cada país, há também uma elevada correlação entre os dois desempenhos.

Afinal, para pensar fora da caixa é bom ter conhecimentos na caixa!