Em momentos determinados e sob orientação do professor, o trabalho de grupo é um recurso pedagógico que permite estimular a participação dos alunos. No entanto, para garantir os efeitos pretendidos, não basta deixar os alunos organizarem-se sozinhos: importa traçar objetivos e estruturar as interações entre eles.
Quais são os efeitos das interações entre alunos?
Os trabalhos de grupo têm efeitos positivos nos alunos. Os estudos mostram que quem participa em mais trabalhos de grupo tende a aprender melhor: resumir informações para os outros ajuda a clarificar e a estruturar as próprias ideias, aumentando a compreensão; preparar e fazer apresentações orais implica rever conteúdos, promovendo a retenção de longo prazo; a interação com os outros permite clarificar pontos menos claros e aprofundar o entendimento; por fim, a aprendizagem sai ainda mais reforçada explorando discordâncias, explicando-se, criticando de maneira construtiva, indagando a solução mais adequada.
Porque é importante estruturar os trabalhos de grupo?
Ajuda à participação de cada aluno. Os alunos não participam todos espontaneamente da mesma maneira numa turma. Participam mais ou menos consoante a sua personalidade, o grau de escolaridade, a competência em determinada matéria, mas também o grupo social a que pertencem, por exemplo, o seu nível socioeconómico ou género.
Os estudos dedicados à aprendizagem cooperativa sublinham que encontramos estas diferenças nos trabalhos de grupo: o estatuto entre pares, ou seja, o lugar que os alunos ocupam na turma (o facto de serem escolhidos como parceiros de brincadeira ou de trabalho) determina a frequência, mas também o tipo de participação (exclusão, participação discreta, co-construção ativa, dominação).
Assim, deixar que os alunos se organizem como querem pode levar alguns a participar mais e a influenciar mais o grupo do que outros. A diferença de participação pode tornar as diferenças de aprendizagem mais pronunciadas.
Os alunos não participam todos espontaneamente da mesma maneira. Participam mais ou menos consoante a sua personalidade, o grau de escolaridade, a competência em determinada matéria, mas também o grupo social a que pertencem
E como fazer os trabalhos de grupo?
Deve seguir-se os princípios da «pedagogia cooperativa» na estruturação das interações ocorridas nos trabalhos de grupo. Nas abordagens cooperativas, o docente pode apoiar-se nas pedagogias ditas «estruturadas». Desde os anos 70 que, nos Estados Unidos, se têm concebido e testado vários planos de ação, posteriormente generalizados ao resto do mundo. Os resultados dos estudos evidenciam os benefícios para os alunos em contextos diferentes, do ensino pré-escolar ao superior.
A pedagogia cooperativa estruturada propõe diferentes princípios dos quais o corpo docente pode partir, de modo a preparar os alunos para cooperarem e organizarem as interações durante o trabalho cooperativo.
Pretende-se assim criar um ambiente que permita aos alunos sentirem-se seguros para participar e discutir conteúdos escolares, munindo-os de instrumentos que lhes permitam interagir de maneira eficaz.
- O professor clarifica os objetivos a alcançar pela equipa, centrando os alunos no processo de aprendizagem.
- O professor propõe uma organização que torna cada contributo necessário e complementar.
- Para proporcionar uma igualdade de participação em equipas pequenas (de dois a quatro alunos), propõe ainda instruções que reforçam a estrutura de interdependência positiva e a responsabilidade de cada aluno.
- Enquanto os alunos trabalham, o professor observa e escuta, para poder adaptar as suas intervenções e a sua forma de ensinar.
Os trabalhos de grupo estruturados são benéficos na qualidade das interações, nas relações de classe e nas aprendizagens. Os alunos indicam sentir-se mais motivados e desenvolvem competências sociais. Estes resultados permitem compreender a cooperação como motor de um bom ambiente e de inclusão na sala de aula.
Contudo, é exigente a aplicação desta pedagogia cooperativa, e as pesquisas realçam as dificuldades que o corpo docente sente de pôr em prática, com regularidade, trabalhos cooperativos estruturados. Assim, a abordagem de Spencer Kagan sugere integrar na turma estruturas cooperativas curtas (miniestruturas cooperativas), alternadas com outras modalidades. O objetivo é fazer debater o máximo de alunos num intervalo curto, frequentemente em pares, garantindo a participação ativa de cada aluno. Estas miniestruturas devem ser aplicada regularmente, para criar rotinas cooperativas familiares simples, favorecendo a frequência de interações.
Os trabalhos de grupo estruturados são benéficos na qualidade das interações, nas relações de classe e nas aprendizagens. Os alunos indicam sentir-se mais motivados e desenvolvem competências sociais
Miniestruturas cooperativas
As miniestruturas cooperativas visam reforçar as interações simultâneas e assegurar a igualdade de participação na equipa (muitas vezes de dois elementos). Estruturam-se segundo princípios de interdependência positiva e de responsabilização, organizadas com base em instruções simples.
Kagan propõe exemplos de estruturas particulares que os professores podem aplicar numa sequência de instruções, representadas em três etapas, por exemplo numa miniestrutura particular: «Refletir, Debater, Partilhar».
Um estudo de Mundelsee e Jurkowski publicado em 2021 sublinha a importância destas três etapas consecutivas. Testaram-se as três etapas da miniestrutura cooperativa «Refletir, Debater, Partilhar» na participação dos alunos de 16 turmas do 7.º ao 9.º ano (perto de 400 alunos com pouco mais de 14 anos). Na primeira aula de uma disciplina, apresentaram-se três perguntas e todas as turmas lhes responderam de acordo com três modalidades distintas:
- os alunos respondiam diretamente à pergunta, levantando a mão se quisessem (Partilhar);
- os alunos tinham um intervalo individual de reflexão antes de responder, levantando a mão (Refletir, Partilhar);
- os alunos tinham um intervalo individual de reflexão, um tempo de debate com um colega (escolhido aleatoriamente), antes de levantar a mão para responder (Refletir, Debater, Partilhar).
Cada aluno experimentou as três modalidades, cuja ordem variava entre turmas. As análises consideram a estrutura multiníveis (os alunos trabalham em pares em turmas diferentes). Os resultados indicam que é importante a presença de três etapas (Refletir, Debater, Partilhar) para fomentar a participação dos alunos. De facto, ter tempo de reflexão e depois de debate em pares aumenta o número de alunos que levantam a mão para partilharem com o coletivo, pois reduz-se a ansiedade sentida. Ter um tempo de reflexão sem debate em pares não aumenta o número de alunos que querem expressar-se perante a turma.
Os profissionais que, após formação, aplicaram na prática estas miniestruturas realçam os benefícios registados. Um primeiro inquérito mostra uma redução rápida e permanente de comportamentos indesejáveis (insultos e conflitos em períodos de inatividade), menos alunos sofrem de isolamento, e as competências sociais da turma aumentam. Os professores relataram um impacto positivo no ensino e acreditam que os alunos demonstraram maior participação, aprenderam mais e desenvolveram competências sociais e de comunicação.
Por fim, num estudo com a duração de seis semanas, integrando 35 docentes do primeiro ciclo distribuídos aleatoriamente, e comparando o ensino tradicional com um ensino que integrava miniestruturas cooperativas, os alunos referem maior proximidade a pessoas de outros grupos étnicos.
Este texto é uma adaptação do artigo «Le travail en groupe: pourquoi est-ce important de le structurer et comment s’y prendre?», disponível aqui. Esta adaptação resulta de uma parceria editorial com o CSEN - Conseil Scientifique de l'Éducation Nationale.
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