Alunos e professores tendem a encarar os testes de revisão (quizzes) com preocupação, receando os efeitos negativos que podem ter na ansiedade dos estudantes. Uma investigação recente mostrou dados estatísticos sólidos que indicam um efeito contrário. A médio prazo, a realização destes testes pode, na verdade, aumentar a motivação e melhorar a preparação dos alunos, ao melhorar a aprendizagem e diminuir a incerteza sobre as avaliações.
Os testes práticos de revisão que são frequentes nas salas de aula têm sido comummente considerados como uma ferramenta eficaz para facilitar a aprendizagem. Porém, estudantes e professores têm manifestado a preocupação legítima de que a sua realização pode gerar ansiedade durante a avaliação — comprometendo o desempenho académico —, o que explicaria a sua não generalização e a recomendação para se minimizar o seu uso em contexto de ensino.
Uma meta-análise recém-publicada na Educational Psychology Review explorou essa questão. Mais especificamente, os autores pretenderam determinar o efeito destes testes práticos na chamada ansiedade de teste e explorar potenciais fatores moderadores desse efeito. Avaliaram cinco possíveis fatores: cenário de pesquisa, tipo de medição da ansiedade, formato do teste, desempenho e status da publicação. É relevante destacar que a maioria dos estudos sobre o assunto tinha, sobretudo, pretendido avaliar os efeitos dos testes práticos na aprendizagem e no desempenho académico, mas não na ansiedade. A questão dos fatores mantinha-se também ainda pouco explorada (ou mesmo inexplorada). Após uma pesquisa bibliográfica sistemática, a equipa de investigação reuniu 24 estudos elegíveis, dos quais foram extraídos 25 efeitos, com base em dados de 3374 participantes.
Os resultados mostraram fortes indicações estatísticas de que os testes práticos podem reduzir a ansiedade em relação às avaliações, com um efeito médio significativo. Para explicar esse efeito, o estudo propôs duas hipóteses. Por um lado, a da melhoria da aprendizagem, segundo a qual os testes diminuem a ansiedade graças à melhoria do desempenho dos estudantes. Mais especificamente, a motivação gerada pelo teste leva os alunos a estudar mais e a preparar-se melhor para avaliações futuras, reduzindo a preocupação e, por conseguinte, a ansiedade. Por outro lado, a hipótese da redução da incerteza. Uma vez que os testes informam os estudantes sobre o conteúdo que será avaliado, o formato em que será feita a avaliação e a dificuldade do teste, podem reduzir a incerteza dos alunos sobre os próximos exames e aliviar a ansiedade. Os resultados de todas as análises para detetar o viés de publicação — tendência de publicar resultados de pesquisa positivos, significativos ou inéditos — também mostraram que os estudos incluídos apenas sofreram minimamente deste viés. E testes práticos fáceis tenderam a ser mais eficazes na redução da ansiedade do que os difíceis, mas menos eficazes na melhoria da aprendizagem.
Os resultados mostraram fortes indicações estatísticas de que os testes práticos podem reduzir a ansiedade em relação às avaliações
Estas descobertas apoiam a recomendação de que os professores incluam a realização de testes práticos nas suas disciplinas. Ainda assim, os docentes também precisam de reconhecer que os testes são per se uma atividade de aprendizagem que gera ansiedade, pelo que devem encontrar formas de a atenuar. Para tal, estudos anteriores recomendaram que os professores fizessem testes não classificados e ludificados, permitindo ainda aos estudantes a possibilidade de os refazer várias vezes.
O número reduzido de investigações nesta área é uma das grandes limitações desta meta-análise, assim como o diminuto conjunto de efeitos incluídos, o qual compromete o poder estatístico das análises dos fatores moderadores. De facto, dos cinco potenciais fatores avaliados, apenas o desempenho nos testes teve um efeito expressivo na ansiedade. Futuros estudos devem também investigar potenciais fatores importantes como o feedback corretivo e explorar diferenças individuais entre os estudantes que influenciem a eficácia dos testes práticos na redução da ansiedade.
Referência bibliográfica
Yang, C., Li, J., Zhao, W., Luo, L., & Shanks, D. R. (2023). Do practice tests (Quizzes) reduce or provoke test anxiety? A Meta-Analytic review. Educational Psychology Review, 35(3). https://doi.org/10.1007/s10648-023-09801-w
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