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Introdução

Gerir a sala de aula constitui um desafio constante para os educadores. A este desafio, acresce a necessidade de motivar e envolver as crianças em actividades estruturadas, como é o caso das actividades de escrita para a promoção da literacia emergente. Quando se pretende motivar e incentivar cada criança no contexto colectivo da turma, a tarefa torna-se ainda mais desafiadora.

De acordo com Friddle e Ivey (2023), actividades interligadas de leitura e escrita de livros aumentam significativamente a probabilidade de as crianças considerarem a escrita uma competência valiosa e de a abordarem com entusiasmo. Além disso, essas actividades constituem uma prática social envolvente, crucial para o fortalecimento da relação com os pares e, consequentemente, da percepção de interacção ou relação (abordada no texto de apoio anterior).

Para apoiar educadores na promoção da escrita, Friddle e Ivey (2023) descreveram um conjunto de recomendações para associar explicitamente a leitura compartilhada de livros ilustrados a actividades de escrita.

Leitura compartilhada de livros ilustrados

Os livros ilustrados constituem ferramentas essenciais para a promoção e desenvolvimento da escrita composicional, assim como para a ligação social das crianças à comunidade que os escreve. De acordo com Friddle e Ivey (2023), entre os diversos benefícios da leitura compartilhada encontra-se a oportunidade de estabelecer relações explícitas entre a leitura e a escrita das crianças. Por essa razão, a leitura compartilhada de livros deve ocorrer diariamente. Os educadores podem, especificamente:

1. Estimular a leitura repetida de livros ilustrados. Após a primeira leitura, os educadores devem permitir que as crianças respondam com sinceridade às questões formuladas, sem se preocuparem se a resposta está correcta. De acordo com a experiência de Friddle e Ivey (2023), a escolha adequada dos livros ilustrados estimula as crianças a responderem voluntariamente. Além disso, segundo as investigadoras, observar a linguagem corporal, as expressões faciais e as reacções verbais pode ser uma boa estratégia para estimular e apoiar as crianças mais introvertidas a participarem na actividade.

Após a primeira leitura, os educadores devem ler o livro novamente. No entanto, desta vez, devem encorajar as crianças a prestar atenção às decisões dos autores e ilustradores. Devem, em concreto, chamar a atenção quer para a forma como os objectos e acções são representados, quer para os pensamentos e sentimentos das personagens. A consciência dos pensamentos e dos sentimentos das personagens do livro está intimamente relacionada com o desenvolvimento socioemocional das crianças. Além disso, influencia a sua compreensão e escrita. De acordo com a literatura, antes de aprenderem a ler, as crianças observam atentamente como as expressões faciais, a linguagem corporal e as imagens são representadas nos livros, o que pode influenciar a própria escrita.

2. Incluir livros sem palavras. É fundamental ter em consideração este aspecto: a linguagem escrita não é a única forma de transmitir e construir significado. Desenhar constitui um ponto de partida muito importante para a escrita composicional. Além disso, os livros que dependem de imagens permitem o acesso ao significado através da sua análise e apoiam as crianças na compreensão da história.

3. Relacionar os livros entre si. Os educadores devem analisar, juntamente com as crianças, as decisões dos autores e ilustradores, e sugerir que tentem fazer o mesmo quando escreverem um livro. Os educadores devem apontar práticas comuns entre os autores e ilustradores, deixando claro que podem aprender uns com os outros. Por exemplo, as crianças podem ser encorajadas a utilizar cores alegres e vibrantes para representar sentimentos de alegria e tons mais escuros para comunicar emoções negativas.

4. Criar espaços para a escrita em grupo. A escrita em grupo constitui uma estratégia promotora da interacção entre os pares e, não menos importante, da aprendizagem colaborativa. Por essa razão, as autoras recomendam que se promovam frequentemente actividades de grupo.

5. Introduzir a escrita de livros de forma estratégica. Para facilitar a compreensão das crianças acerca do conceito de livro e promover a sua motivação e envolvimento em actividades de escrita, os educadores devem encorajá-las gradualmente a escrever. Sugerir livros que permitam a leitura compartilhada, assim como livros escritos por outras crianças, pode esclarecer qualquer dúvida ou confusão sobre o que as crianças podem criar. Além disso, é importante esclarecer as rotinas envolvidas na escrita de um livro, os materiais necessários e o local onde podem ser encontrados.

6. Tornar os livros acessíveis. Durante as actividades de escrita, os livros ilustrados, principalmente os que foram utilizados durante a leitura compartilhada, devem estar num local acessível para que as crianças possam explorá-los e usá-los como inspiração.

7. Participar nas actividades de escrita. Os educadores devem participar nas actividades de escrita. A sua participação, além de permitir observar e identificar as competências e estratégias adoptadas pelas crianças, permite apoiá-las nos processos de tomada de decisão e incentivá-las a escrever. De acordo com Friddle e Ivey (2023), é essencial considerar que a ênfase está na participação dos educadores, não na supervisão. Especificamente, os educadores podem, por exemplo, sentar-se com as crianças e interagir com elas, em vez de apenas observá-las.

8. Promover a ajuda e colaboração entre as crianças. As crianças não aprendem apenas com os educadores, mas também umas com as outras. Por isso, os educadores devem partilhar com o grupo os métodos e estratégias utilizados por cada criança. Assim, as crianças começarão a ver-se umas às outras como recursos e fontes de conhecimento e, igualmente importante, sentir-se-ão valorizadas.

Principais ideias a reter

De acordo com Friddle e Ivey (2023), as crianças podem desenvolver o gosto e interesse pela escrita se os educadores considerarem o que poderá motivá-las e envolvê-las em actividades dessa natureza. Segundo as mesmas investigadoras, a realização de actividades em contexto de turma constitui uma estratégia eficaz de promoção da participação activa das crianças nas tarefas de escrita. Os professores podem fazê-lo a partir das seguintes estratégias:

  1. estimular a leitura repetida de livros ilustrados;
  2. incluir livros sem palavras;
  3. relacionar os livros entre si;
  4. criar espaços para a escrita em grupo;
  5. introduzir a escrita de livros de forma estratégica;
  6. tornar os livros acessíveis;
  7. participar nas actividades de escrita;
  8. promover a ajuda e colaboração entre as crianças.

Referência bibliográfica

Friddle, K. A., & Ivey, G. (2023). Motivate and engage our youngest writers. The Reading Teacher, 0(0), 1-10. https://doi.org/10.1002/trtr.2251

AUTORES

Célia Oliveira

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Célia Oliveira é Doutorada em Psicologia Experimental e Ciências Cognitivas pela Universidade do Minho, com uma tese sobre o papel de processos atencionais na Capacidade Memória Operatória. Pela mesma universidade, licenciou-se em Psicologia com pré-especialização em Psicologia Escolar e da Educação, e completou um Mestrado em Psicologia Clínica.

Atualmente é docente na Universidade Lusófona do Porto, onde é responsável por unidades curriculares no domínio da Cognição (Psicologia da Memória e Psicologia da Atenção) e da Psicologia da Educação (Psicologia da Educação e Psicologia Escolar). É membro do HEI-Lab - Digital Human-Environment Interaction Lab, da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, e integra o Grupo de Investigação em Problemas de Aprendizagem e de Comportamento, do Centro de Investigação em Psicologia da Universidade do Minho. Os seus interesses e atividade de investigação contemplam os domínios da Aprendizagem, Atenção e Memória Humana.

Detém experiência continuada de prática clínica com crianças e adolescentes, e tem exercido atividades de consultoria científica em projetos de investigação, bem como consultoria técnica em contextos de atuação comunitária.

Soraia Araújo

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Soraia Araújo é doutoranda em Psicologia Aplicada, na Escola de Psicologia da Universidade do Minho. Licenciou-se em Psicologia, em 2018, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, e concluiu o Mestrado em Psicologia Aplicada, em 2020, na Universidade do Minho.

Integra o Grupo de Investigação em Problemas de Aprendizagem e de Comportamento, do Centro de Investigação em Psicologia da Universidade do Minho, desde 2019, aquando da realização da sua dissertação de mestrado, intitulada “Formação Contínua de Professores: Necessidades, Participação e Barreiras”. No mesmo grupo de investigação, encontra-se a desenvolver a sua tese de doutoramento sobre as dificuldades de aprendizagem inicial da leitura. Integra, ainda, o Programa AaZ – Ler Melhor, Saber Mais, onde colabora, essencialmente, na escrita de textos de apoio sobre o ensino da leitura, dirigidos a professores do 1.º Ciclo do Ensino Básico.

Os seus interesses de investigação centram-se na área da Psicologia e da Educação. Especificamente, ensino da leitura e escrita, dificuldades de aprendizagem, perturbações do neurodesenvolvimento, métodos de ensino e formação de professores.

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