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Talvez tenha tido oportunidade, no verão, de usufruir do prazer de uma sesta. Nos adultos, a sesta permite compensar uma noite de sono mais curta, mas, nas crianças mais pequenas, constitui uma necessidade fisiológica essencial. É no ensino pré-escolar que esta necessidade vai diminuindo, a favor de uma noite consolidada de sono. No entanto, como acontece na maior parte dos marcos do desenvolvimento de uma criança, é difícil prever ao certo quando esta transição vai acontecer. Compreender a importância da sesta e a sua evolução pode ajudar a acompanhar melhor a criança, quer na escola quer em casa.

Para que serve a sesta?

Nos primeiros anos de vida, enquanto a criança precisa de assimilar grandes quantidade de informação, o seu cérebro — sobretudo as redes neuronais que sustentam a memorização e a aprendizagem — encontra-se ainda em plena maturação. O hipocampo e o córtex pré-frontal, que não estão totalmente desenvolvidos, consomem muita energia. É, contudo, durante o sono que o cérebro se consegue ajustar a uma exigência energética tão grande. Se um adulto, com uma noite de sono, é capaz de recarregar as suas baterias neuronais, esgotadas após um dia inteiro a raciocinar, a criança precisa de um período de sono mais curto, no começo da tarde.

Alguns investigadores levantam a hipótese de que, com o amadurecimento do cérebro, a capacidade de armazenamento da memória vai ficando cada vez mais eficaz e consumindo menos recursos. Este acréscimo de eficácia reduz a acumulação da pressão do sono, bem como a necessidade de fazer uma sesta ao início da tarde. Isto leva a uma transição natural, na primeira infância, para um sono exclusivamente noturno.

Vários estudos têm concluído que a sesta — por exemplo, depois de uma criança aprender vocabulário novo — permite reter melhor o que se aprendeu.

Os dados indicam que, antes dos 2 anos, é raro o fim das sestas (uma percentagem inferior a 2,5% das crianças). É mais frequente as sestas acabarem no ensino pré-escolar. Aos 3 anos, 33% das crianças já não dormem a sesta, 57% deixam de a fazer entre os 3 e os 4 anos, e 80% entre os 4 e os 5 anos. Após os 5 anos, 94% das crianças deixaram de dormir a sesta.

O que nos dizem estes resultados? A sesta é uma necessidade individual que evolui de maneira diferente de criança para criança. Algumas deixam de precisar de a fazer logo no pré-escolar, enquanto noutras a necessidade da sesta perdura durante mais tempo.

Figura 1. Proporção de crianças que fazem a sesta por faixa etária. Dados de Staton et al. (2020).

Como considerar a evolução das necessidades de cada criança no estabelecimento de ensino e em casa?

Embora a sesta seja frequentemente suprimida no fim do ensino pré-escolar a favor de algum tempo de descanso, os estudos científicos indicam ser essencial permitir uma sesta no estabelecimento de ensino a todas as crianças que dela precisem. No caso das crianças que ainda precisam de dormir, um período de simples repouso não pode substituir a sesta, assim como não se pode impor a sesta a crianças que dela não precisem.

Os investigadores estão bem cientes de que a organização das sestas representa um desafio para as equipas educativas. Alguns estabelecimentos chegam a proporcionar uma sesta a todas as crianças de 3 e 4 anos. Outros — por restrições de espaço ou de funcionários, ou devido ao número de crianças — são obrigados a suprimir espontaneamente a sesta quando as crianças chegam aos 4 anos, sem poderem ter em conta as necessidades distintas ou as diferenças etárias das crianças (não esqueçamos que, por exemplo, uma criança de 4 anos nascida em dezembro e uma de 3 anos nascida em janeiro têm necessidades fisiológicas não muito diferentes).

É essencial uma comunicação regular entre pais e educadores de modo a acompanhar o desenvolvimento da criança. É importante que todos discutam em conjunto as mudanças no ritmo de vida da criança para melhor responder às suas necessidades. Quando à noite a criança tem dificuldades em adormecer, pode ser útil eliminar a sesta e, durante alguns dias, atentar no comportamento da criança: se parecer mais cansada, rabugenta ou agitada, não há dúvida de que é cedo para acabar com a sesta. Em contrapartida, se o seu comportamento se mantém estável durante o dia e é mais fácil adormecê-la à noite, isso significa que a transição está em curso. Nas crianças que já não precisam de sesta, pode haver um período de simples descanso, com a duração de 20 a 30 minutos.

É importante ajudar a criança a identificar as suas necessidades de sono. A criança nem sempre sente o cansaço, que pode manifestar-se de maneira imprevisível e confundir-se por vezes com agitação. São sinais de falta de sono, entre outros, dificuldades de concentração, sentir sonolência ou dormir quando regressa a casa, sentir agitação, irritabilidade ou impaciência e cair.

As equipas educativas, à semelhança dos pais, podem ajudar a criança a compreender a importância do sono. É importante que a criança não sinta que a sesta está reservada aos mais pequenos ou serve de castigo, mas que constitui uma oportunidade de crescimento e aprendizagem. É também essencial garantir que a criança não se sinta frustrada por perder alguma atividade no estabelecimento de ensino ou em casa, para poder dormir tranquilamente.

Estratégias para uma boa sesta

  • A sesta, idealmente, deve começar ao início da tarde, o mais cedo possível depois de almoço, e durar cerca de hora e meia (correspondente a um ciclo de sono).
  • A adoção de um ritual calmo antes de deitar a criança ajuda-a a descontrair e a adormecer mais facilmente. Um ritual, mesmo que breve, tranquiliza-a.
  • É muitas vezes mais difícil dormir em grupo, sobretudo em ambientes pouco familiares. Personalizar a cama da criança pode ajudá-la a sentir-se à vontade.
  • É essencial silêncio na zona de repouso, mas não é indispensável que essa zona fique às escuras: até é desaconselhado. A luz natural ajuda a criança a distinguir o período de sono noturno do da sesta, ajudando-a a definir o seu ritmo circadiano.
  • O tempo de sono varia. Em regra, aconselha-se a levantar uma criança que, 20 minutos depois, ainda não adormeceu, desde que tenha chegado à cama calma e pronta a adormecer. Não é preciso tempo de recreio nem antes nem depois da sesta.

Figura 2. A sesta no ensino pré-escolar (resumo)

Este texto é uma adaptação do artigo «La sieste: comment accompagner son évolution en maternelle?», disponível aqui. Esta adaptação resulta de uma parceria editorial com o CSEN - Conseil Scientifique de l'Éducation Nationale

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CSEN - Conseil Scientifique de l'Éducation Nationale

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CSEN é um órgão público de aconselhamento da política de educação nacional, criado em 2018, sob tutela do ministério da Educação francês. Além de promover as melhores práticas educativas, com vista à melhoria da qualidade da Educação em França, o CSEN tem como objetivo último ajudar a contribuir para a redução das desigualdades sociais.

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