A metáfora de tentar usar uma boca-de-incêndio para beber água é muitas vezes usada para descrever os primeiros anos de um curso de Medicina. Os futuros médicos encontram à chegada uma quantidade avassaladora de informação que precisam de aprender, e têm de o fazer rapidamente. Entre outras coisas que faço, ajudo estudantes de Medicina a aperfeiçoar a sua forma de tirar apontamentos para que consigam gerir as torrentes de matéria que têm de estudar.
É possível que a definição de «apontamentos» que uso neste artigo seja diferente do entendimento comum da maioria das pessoas. Vejo os apontamentos como qualquer registo formatado de aprendizagem que pretende facilitar a compreensão e a retenção da matéria a longo prazo. Num cenário ideal, estes registos são atualizados de forma constante: devem ser documentos dinâmicos que ajudam os alunos a aproximar-se dos objetivos de aprendizagem. Isto significa que podem incluir fichas de estudo criadas pelos próprios, gráficos e tabelas impressos, diagramas com notas explicativas, fluxogramas e esquemas.
O que torna os apontamentos bons ou eficazes depende dos objetivos com que são criados. Por exemplo, uma pergunta que surge com frequência é a disputa entre escrever à mão ou num dispositivo digital. Eu diria que o formato é menos importante do que os processos cognitivos que são usados durante a criação dos apontamentos. A qualidade das notas manuscritas tende a ser superior porque é mais difícil escrever à mão — somos obrigados a selecionar o que escrevemos e a usar as nossas palavras para o fazer. São estes processos de seleção e paráfrase que facilitam a memória e a compreensão, e não exatamente o movimento físico das mãos. Se soubermos isto, podemos aplicar o mesmo princípio ao que escrevemos no computador. Se o objetivo é transcrever por completo um acontecimento ou um relato, será mais rápido e mais simples usar o computador à partida.
Uns bons apontamentos devem cumprir vários objetivos. Em primeiro lugar, a formatação deve facilitar a memorização através da prática espaçada. Em segundo lugar, precisam de condensar uma torrente de informação (a tal boca-de-incêndio) num formato mais digerível. Em terceiro lugar, devem contribuir para a compreensão e para o conhecimento cumulativo. Por último, os apontamentos são um registo formal da aprendizagem: funcionam como uma espécie de diário de bordo que permite acompanhar e controlar o estudo e a aquisição de conhecimento.
Em suma, os bons apontamentos:
- São formatados para facilitar a prática espaçada
- Resumem grandes quantidades de informação
- Promovem a compreensão
- Registam e acompanham o progresso
Eugenia G. Kelman e Kathleen Straker apresentam no seu livro Study Without Stress [Estudar sem stresse] cinco formatos de apontamentos que vão ao encontro destes objetivos: fichas de estudo, diagramas, fluxogramas, gráficos/ tabelas e combinações de uns e outros.
Fichas de estudo
As fichas de estudo são uma técnica em que os alunos usam pistas para se recordarem da informação a ela associada. Por exemplo, podemos escrever 5 formatos de notas numa das faces de um cartão e listar esses cinco formatos do outro lado (fichas de estudo, diagramas, fluxogramas, gráficos/ tabelas, combinações). Há várias aplicações e programas em linha que possibilitam a criação de «baralhos» digitais de fichas de estudo.

As fichas de estudo funcionam muito bem com conceitos, definições e listas. Ordenam-se facilmente e permitem a prática espaçada. São também muito fáceis de classificar, o que facilita o controlo da aprendizagem (percebemos facilmente se nos conseguimos recordar de 80%, ou apenas de 20%). Por outro lado, as fichas de estudo não nos permitem situar a informação no contexto a que pertence nem compreender relações mais complexas ou a localização de vários elementos.
Os alunos pedem muitas vezes a minha opinião acerca dos programas de fichas de estudo digitais, tais como o Anki. Quer optem por fichas digitais ou de papel, recomendo vivamente aos alunos que criem os seus próprios conjuntos de fichas. Desta forma, irão construir um baralho personalizado e serão forçados a selecionar que matéria incluir e a que deixar de fora.
Fluxogramas
Os fluxogramas, ou mapas mentais, são esquemas que usam caixas e setas para transmitir noções de sequência, ordem e relação entre diferentes partes da matéria. É possível, por exemplo, que numa aula de Psicologia se peça a um aluno que descreva o fluxo da informação dentro de um neurónio: dendrites → soma → axónio → terminações.

Os fluxogramas são muito úteis para representar processos e informações sequenciais. Este formato requer que os alunos sejam capazes de dividir os processos em etapas e que integrem cada uma dessas etapas num contexto mais vasto. Os fluxogramas favorecem também a prática espaçada — basta cobrir uma das caixas de texto, inverter a direção das setas ou desenhar tudo outra vez. É muito fácil medir o progresso através de um fluxograma. A divisão da matéria em etapas facilita o controlo do estudo.
Embora os fluxogramas sejam extremamente eficazes para apresentar as informações para os quais foram concebidos, não funcionam tão bem para outro tipo de conteúdo. Os fluxogramas não são ideais para a localização nem a identificação de conceitos, como parte da técnica de estudo distribuído nem para facilitar a aprendizagem de certos tipos de matéria relacional. Alguma experiência com os diferentes formatos ajudará os alunos a perceber se cada tipo de matéria encaixa melhor num fluxograma, numa lista ou até num diagrama.
Diagramas
Os diagramas são imagens que nos permitem localizar e classificar o conhecimento, como uma imagem que mostre as camadas interna e externa de uma célula.

Como permitem localizar e classificar informação, os diagramas são muito úteis para o estudo da Anatomia. Variações no tipo de diagrama e na sua perspetiva permitem incluir informações contextuais. Qualquer diagrama tira partido da dupla codificação, combinando elementos verbais com elementos visuais — palavras e imagens. Além disso, também são úteis como ferramenta de memorização, pois é possível tapar as palavras ou copiar várias vezes o desenho.
Como acontece com outros formatos, os diagramas funcionam muito bem com a informação para que foram concebidos, mas falham com outro tipo de matéria. Outra desvantagem é a dificuldade de reprodução fiel da imagem caso esta seja muito complexa.
Se o diagrama for simples, ou se conseguir simplificá-lo, recomendo que faça o desenho à mão. Se precisar de um nível de pormenor avançado, é sempre possível imprimir a imagem ou copiar e colar uma versão adaptada num documento de trabalho. Certifique-se de que é possível acrescentar legendas para poder testar a sua memória.
Gráficos e tabelas
Os gráficos e tabelas organizam a informação em colunas e linhas, permitindo comparar diferentes fatores e dimensões. Eis um gráfico que resume os formatos dos apontamentos.

Os gráficos e as tabelas são muito eficazes para resumir grandes quantidades de matéria de uma forma estruturada. Organizar a informação num gráfico tem várias vantagens. Decidir o que incluir num gráfico e qual a melhor forma de o sistematizar requer um processamento pormenorizado e relacional da informação. Por outro lado, se o conteúdo estiver agrupado numa tabela, é muito fácil estudar e avaliar o progresso. Se o aluno se recordar de 100% do conteúdo da tabela, é porque conseguiu aprender tudo.
Combinações
Embora cada um destes formatos possa ser utilizado isoladamente, também é possível combiná-los. Pode, por exemplo, dispor as fichas de estudo numa certa sequência para criar um fluxograma. Os diagramas podem ser integrados numa tabela para o ajudar a compreender a composição, a função e a localização de diferentes estruturas. Um fluxograma pode ser combinado com um diagrama para mostrar o fluxo de informação através das diferentes partes de um neurónio. Se um aluno não souber identificar os diferentes componentes de um neurónio, pode optar por desenhar um exemplo em vez de utilizar apenas um fluxograma. Acrescentando setas ao desenho, poderá compreender a relação entre as diversas partes e o fluxo da informação. Também é possível criar gráficos com esta informação.

Tal como acontece com qualquer um dos formatos anteriores, para criar bons apontamentos combinados é preciso identificar qual a informação que é preciso registar/ aprender e escolher o formato adequado, certificando-se de que este permite a técnica de estudo distribuído.
Conclusão
Pessoalmente, gosto de usar estes diferentes formatos porque facilitam a memorização, resumem grandes quantidades de matéria e — como requerem uma seleção prévia — ajudam os alunos a compreender a informação.
Outra sugestão que dou aos alunos é criarem um método de acompanhamento que lhes permita perceber o seu progresso. Basta usar uma folha ou até um cabeçalho onde registem as diferentes tentativas de estudo, por exemplo:
5/11 – 40%
6/11 – 70%
7/11 – 100%
15/11 – 95%
30/11 – 100%
Registar o progresso pode ajudar os alunos a identificar a matéria que precisam de rever no imediato, a que já dominam naquele momento, e qual a matéria que podem precisar de voltar a estudar de forma espaçada.
Bom estudo! Melhor compreensão!
Este texto é uma tradução e adaptação do artigo «Notetaking Formats», disponível aqui. Resulta de uma parceria editorial com as Learning Scientists.
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