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Numa conferência em que participei no Porto, uma diretora de escola queixava-se, com razão, de se dar pouca atenção aos diretores. De facto, fala-se muito da importância que os professores têm na vida dos seus alunos, mas pensamos pouco nos outros profissionais sem os quais a escola não funcionaria tão bem. Um dos mais evidentes é, precisamente, o diretor de escola.

Sabemos que têm uma função preponderante na administração escolar, na gestão de professores e assistentes operacionais, na representação e liderança da escola. Neste artigo, vamos tentar perceber qual é o impacto exato dos diretores nos alunos e professores.

Infelizmente, como acontece em muitos destes temas, não temos em Portugal dados suficientes que nos permitam estudar o assunto. Para compensar, existe, contudo, uma investigadora portuguesa — Joana Cardim Dias — que fez parte da equipa do Education Policy Institute de Inglaterra e estudou ao pormenor o impacto dos diretores de escola em várias vertentes.

Os investigadores usaram dados de mais de 28 mil diretores em Inglaterra ao longo de 15 anos para verificar o seu impacto em vários elementos, tais como os resultados dos alunos ou a retenção dos professores. Como o estudo olhou para dados ao longo de vários anos, conseguiu acompanhar-se o mesmo diretor à medida que ia mudando de escola, permitindo assim, ao isolar o efeito de cada diretor em específico, separá-lo de outros elementos que também têm impacto, como o corpo docente ou o contexto da escola.

Os resultados a que chegaram mostram coisas muito interessantes. Desde logo, confirmou-se que, de facto, os diretores influenciam os resultados dos alunos. Se uma escola substituir um diretor pouco eficaz por um dos mais eficazes, o impacto nos alunos vai ser de tal ordem, que é equivalente a acrescentar três meses de conhecimentos aos seus alunos nas escolas do ensino primário, que corresponde sensivelmente ao 6.º ano de escolaridade em Portugal.

Se uma escola substituir um diretor pouco eficaz por um dos mais eficazes, o impacto é equivalente a acrescentar três meses de conhecimentos aos seus alunos nas escolas do ensino primário

Esta melhoria dos resultados dos alunos tem, naturalmente, um impacto de longo prazo. Por exemplo, estima-se que o efeito desta melhoria de resultados no final do ensino secundário seja equivalente a um aumento dos rendimentos de cada aluno num valor que ronda os 20 mil euros, ao longo da sua vida de adulto.

Uma outra conclusão é que estes diretores muito eficazes parecem estar igualmente distribuídos entre escolas de diferentes contextos socioeconómicos. É assim possível encontrar diretores muito eficazes nas escolas em regiões mais desfavorecidas.

Em minha opinião, o ideal seria, claro, que se conseguisse ter ainda mais diretores eficazes nas escolas com mais dificuldades. Com os incentivos certos, dotar as escolas com estes diretores poderia ter um efeito transformador. O relatório também parece apontar neste sentido, e sugere mesmo que tentar ter mais diretores eficazes em escolas desfavorecidas poderia ser uma ferramenta eficiente para diminuir as desigualdades no sistema de ensino.

Se ficou claro que os diretores são muito importantes para os seus alunos, a investigação aponta outros elementos que vale a pena analisar. Um dos mais interessantes é que os diretores também são importantes na motivação e satisfação dos professores: tema da maior urgência, tendo em conta a falta de professores que Portugal e Inglaterra vivem. O estudo conclui que os melhores diretores levam os seus professores a quererem manter-se mais tempo na mesma escola. Além disso, estes diretores geram ainda um aumento da assiduidade dos professores. Assim, o número de professores que faltam por doença ou por outros motivos diminui, apesar de esse efeito acontecer sobretudo nas escolas secundárias, onde se verifica uma diminuição equivalente a menos 10 dias de faltas.

Melhores diretores levam os seus professores a quererem manter-se mais tempo na mesma escola

Esta análise olha para um sistema de ensino bastante diferente do português, no qual as escolas têm uma gestão com mais autonomia e prestação de contas. Apesar disso, todos estes efeitos positivos deixam evidente a importância que os nossos diretores têm para os professores e, claro, para os alunos. Depois de vários anos seguidos com uma pandemia, falta de professores, baixas e greves, não deveríamos olhar para o papel dos diretores com mais atenção?

 

As opiniões expressas neste artigo são exclusivamente do autor e não refletem os princípios ou posições das organizações às quais está associado.

AUTOR

Miguel Herdade é Director Associado no Ambition Institute no Reino Unido e governador de uma escola primária em Londres. É também Director e co-fundador da Orquestra Sem Fronteiras, em Portugal e Espanha. Tem especial interesse e experiência no financiamento, concepção, e implementação de projectos e organizações sem fins lucrativos que actuam nas áreas de desigualdades educativas e integração social. Foi professor assistente na Nova SBE – School of Business and Economics e co-fundador e Director Executivo da Academia do Johnson, na Amadora. Posteriormente trabalhou no The Challenge/National Citizen Service no Reino Unido.

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