Portugal, é ainda a maior história de sucesso na Europa?
A evolução positiva de Portugal no PISA em 2015 fez com que o diretor de Educação e Competências da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), usasse a expressão de "maior caso de sucesso". Com os resultados conhecidos agora de 2018, será que o país ainda merece o título?

Portugal tem participado no PISA, TIMSS e PIRLS. Avaliações internacionais aplicadas nos domínios da leitura, matemática ou ciências e que são promovidas por organizações internacionais, como a OCDE.
Os estudos internacionais de avaliação em larga escala produzem indicadores sobre os conhecimentos e competências dos alunos de diferentes sistemas educativos. O que permite a comparação dos países/regiões participantes devidamente enquadrados em variáveis de contexto escolar (sistemas educativos, escolas e professores), socioeconómico das famílias e pessoais dos alunos.
Os estudos avaliam diferentes áreas do conhecimento e competências por intermédio de testes estandardizados aplicados a amostras de grande dimensão que representam convenientemente a população alvo dos diferentes países/regiões participantes. Portugal tem participado nos principais estudos internacionais de avaliação em larga escala desde 1995 com o TIMSS, depois em 2000 com o PISA e 2011 com o PIRLS.
Melhoria no PISA representa quase um ano de escolaridade
O PISA (Programme for International Student Assessment) é promovido pela OCDE desde 2000 com periodicidade trianual. Avalia se os estudantes de 15 anos (em qualquer ano de escolaridade ou modalidade de formação e a frequentar pelo menos o 7.º ano de escolaridade ou equivalente) são capazes de mobilizar os conhecimentos de leitura, ciências e matemática, adquiridos ao longo do seu percurso escolar, para resolver problemas do dia a dia e participar ativamente nas sociedades contemporâneas. Não segue uma matriz curricular, antes procura avaliar em que medida os alunos próximos do final da escolaridade obrigatória na maioria dos países/regiões participantes, estão preparados para a cidadania ativa.
Portugal participou em todas as edições do PISA. Na primeira, os alunos portugueses ficaram posicionados na antepenúltima posição dos resultados ordenados dos 30 países/regiões participantes. De então para cá, têm progredido positivamente nos três domínios principais do PISA (matemática, leitura e ciências) tendo, pela primeira vez em 2015, ficado significativamente acima da média da OCDE nos domínios de leitura e ciências, e na média da OCDE em matemática. Em 2018, os alunos portugueses mantiveram-se em "terreno positivo", ficando cinco ponto acima da média da OCDE a leitura (492 vs. 487) e três pontos acima da médica da OCDE a matemática e a ciências (492 vs. 489).
A evolução positiva registada por Portugal (+2.4 pontos PISA em média por ano, o que corresponde a um ganho de quase um ano de escolaridade na escala do PISA nos 15 anos do estudo) é particularmente relevante quando contrastada com a evolução dos países membros da OCDE no mesmo período (-0.5 pontos PISA em média por ano)(1). Portugal, é também dos países da EU, aquele onde a percentagem de alunos que não têm competências básicas de leitura, matemática e ciências, como definido pelo PISA, mais regrediu, ao mesmo tempo que a percentagem de alunos com competências avançadas de literacia aumentou significativamente. De acordo com Andreas Schleicher, diretor de Educação e Competências da OCDE, "Portugal é a maior história de sucesso da Europa no PISA"(2). No entanto, os valores de 2018 indicam um retrocesso para o nível dos alunos da edição do PISA de 2012.
Ainda assim, dos 79 sistemas educativos que participaram no PISA, em 2018, apenas sete (Albânia, Colômbia, Macau, República da Moldávia, Peru, Portugal e Qatar) registaram uma melhoria significativa do desempenho dos seus alunos simultaneamente a leitura, matemática e ciências na história do PISA. Destes sete, apenas um é membro da OCDE: Portugal.
Acima da média internacional e melhores que a Finlândia no TIMSS
O TIMSS (Trends in International Mathematics and Science Study) foi o primeiro estudo internacional de avaliação de alunos em larga escala em que Portugal participou. O TIMSS é realizado pela IEA (International Association for the Evaluation of Educational Achievement) desde 1995 com periodicidade quadrienal.
O estudo avalia a literacia matemática e a literacia de ciências em alunos do 4.º e 8.º anos de escolaridade. Os testes seguem uma matriz curricular comum, construída pelos especialistas da IEA, que define os conteúdos de matemática e ciências (da terra e da vida) e os processos cognitivos que os alunos devem dominar nos 4.º e 8.º anos.
Na primeira edição, os alunos portugueses ficaram classificados, a matemática, na antepenúltima posição entre os 26 países/regiões participantes. A validade dos resultados dos alunos portugueses foi questionada(3) e Portugal só voltou a participar no TIMSS em 2011. Na 6.ª edição, realizada em 2015, os alunos portugueses do 4.º ano obtiveram uma pontuação média a matemática de 541 pontos, significativamente acima da média internacional (500 pontos). Ficaram também acima de países que, como por exemplo a Finlândia, são tidos como referência de excelência educativa no panorama internacional(4). A evolução registada a ciências pelos alunos portugueses não foi, porém, tão positiva tendo-se observado uma queda de 14 pontos nas pontuações médias entre 2011 e 2015.
Melhores na primeira edição, piores na última
O PIRLS (Progress in International Reading Literacy Study) é o estudo da IEA que avalia a literacia de leitura em alunos a frequentar o 4.º ano de escolaridade. O teste segue uma matriz curricular definida pelos especialistas da IEA como adequada para alunos a frequentar o 4.º ano de escolaridade tendo em conta as finalidades da leitura (para aprendizagem e para lazer) desta faixa etária. O PIRLS realiza-se com periodicidade quinquenal desde 2001. Portugal só participou nas edições de 2011 e 2016. Em 2011, obtivemos uma pontuação de 541 pontos significativamente superiores à média internacional (500 pontos). Porém, na edição de 2016, a pontuação média dos alunos portugueses teve uma descida significativa de 13 pontos(5).
Em 2016, Portugal foi um dos 14 países pioneiros que participaram no ePIRLS, um estudo inovador de literacia de leitura digital, em ambiente web, para crianças a frequentar o 4.º ano de escolaridade. Os alunos portugueses obtiveram uma pontuação de 522 pontos, significativamente acima da média internacional (500 pontos) mas, ainda assim, apenas alcançaram a antepenúltima posição do ranking ordenado dos 14 países participantes(6).
Avaliar a Matemática A e a Física
O TIMSS Advanced é o estudo da IEA que avalia literacia de matemática e física avançadas. A primeira edição foi realizada em 1995, mas o estudo não manteve uma periocidade regular. As edições seguintes ocorreram apenas em 2008 e 2015. Os alunos portugueses a frequentar Matemática A e ou Física no 12.º ano (ensino regular) participaram na edição de 2015. A matemática avançada, obtiveram uma pontuação média de 482 pontos, significativamente abaixo da média internacional (500 pontos) mas, ainda assim, na quinta posição da escala ordenada dos 10 países/regiões participantes(7). A Física, a pontuação foi de 467 pontos, o que corresponde à quarta posição da escala ordenada dos nove países participantes.
No meio da tabela na literacia digital
O International Computer and Information Literacy Study (ICILS, Estudo Internacional de Literacia em Computadores e Informação, em português), começou em 2013 com a periodicidade de cinco anos. É o estudo de larga escala da IEA (Associação Internacional para a Avaliação do Desempenho Educacional) que avalia se os alunos do 8.º ano estão preparados para estudar, trabalhar e viver na era digital. O ICILS testa dois domínios da literacia digital: literacia de computadores e informação (CIL), que avalia a capacidade de usar os computadores para investigar, criar e comunicar de forma a conseguir participar ativamente nas sociedades modernas; e pensamento computacional (CT) de forma a avaliar a capacidade dos alunos de conceptualizar problemas e formular soluções que podem ser implementadas num computador. Na primeira participação - em 2018, com os resultados a serem divulgados em novembro de 2019 -, os alunos portugueses obtiveram uma pontuação média de 516 pontos em CIL e 482 pontos em CT, o que coloca Portugal no meio da tabela dos 14 países e regiões participantes no domínio CIL, e na penúltima posição no domínio CT. O ICILS mostrou que em Portugal, como noutros países, ter acesso a informação e tecnologias de comunicação por si só não é suficiente para desenvolver capacidades avançadas de literacia digital.
Referências
(1) Marôco, J., Gonçalves, C., Lourenço, V., & Mendes, R. (2016a). PISA 2015 - Portugal: Literacia científica, literacia de Leitura & literacia matemática (Vol. I). Lisboa: IAVE.
(2) Tavares, P. S. (2017). Andreas Schleicher: ″Portugal é a maior história de sucesso da Europa no PISA″. Diário de Notícias.
(3) Marôco, J. (2020). International Large-Scale Assessments: Trends and Effects on the Portuguese Public Education System. In Harju-Luukkainen, H.; McElvany, N. & Stang, J. (Eds). Monitoring of Student Achievement in the 21st Century. European Policy Perspective and Assessment Strategies. Berlin: Springer: (In Press)
(4) Marôco, J., Gonçalves, C., Lourenço, V., & Mendes, R. (2016b). TIMSS 2015 - Portugal. Volume I: Desempenhos em Matemática e em Ciências. Lisboa: IAVE
(5) Marôco, J. (2018). "O Bom Leitor: Preditores da Literacia de Leitura dos Alunos Portugueses no PIRLS 2016". Revista Portuguesa de Educação.
(6) IAVE (2017) Resultados globais: PIRLS 2016 e ePIRLS 2016 — Portugal.
(7) Marôco, J., Gonçalves, C., Lourenço, V., & Mendes, R. (2016c). TIMSS Advanced 2015 - Portugal: Desempenhos em matemática e em ciências (Vol. 1). Lisboa: IAVE.
AUTOR