A educação matemática na Europa está em crise, e isso deveria preocupar os professores de Matemática de todos os níveis de ensino, assim como pais e cidadãos em geral. Para as sociedades ocidentais, este cenário tem implicações preocupantes. Primeiro, afeta o futuro dos jovens: uma educação matemática fraca limita as suas oportunidades numa sociedade cada vez mais tecnológica. Segundo, há um impacto económico: estudos mostram que o capital humano, medido por testes como o PISA, é essencial para o crescimento económico. Por fim, para os professores de Matemática, o declínio significa turmas mais difíceis, com menos alunos talentosos e, no futuro, menos investigadores na área.
Uma publicação recente da revista da Sociedade Europeia de Matemática (EMS) fez eco desta preocupação, já expressa pela EMS num relatório do seu Comité de Educação. Neste documento analisam-se os resultados dos estudos internacionais PISA (Programme for International Student Assessment) e TIMSS (Trends in Mathematics and Science Studies), que desde o final do século passado avaliam o desempenho escolar em matemática, ciências e leitura. Estes estudos, realizados pela OCDE e pela IEA, mostram uma tendência preocupante: os estudantes europeus estão a ficar até dois anos escolares atrás dos seus pares em países líderes, como os do Este Asiático (Singapura, Japão, Coreia, entre outros). Na revista da EMS sublinha-se que até a criatividade, muitas vezes vista como oposta ao estudo exigente típico de países asiáticos, está correlacionada com bons resultados em matemática — e Singapura lidera em ambas as áreas.
Num artigo publicado na referida revista europeia, os autores, Nuno Crato e João Marôco, tomam como ponto de partida o dito relatório da EMS após os resultados do PISA 2022. Destacam que a queda no desempenho escolar não é apenas um efeito temporário da pandemia de covid-19, mas sim uma tendência de longo prazo que ameaça o futuro da educação, da economia e da investigação matemática na Europa.
O que dizem os números?
O PISA 2022 revelou uma queda significativa em matemática dos jovens europeus de 15 anos, com uma baixa média de 18,8 pontos em relação a 2018 — o equivalente a uma perda de quase um ano de aprendizagem. Um exemplo desta evolução é a Finlândia, outrora vista como um modelo educacional, e que caiu de 507 pontos em 2018 para 484 em 2022. No mesmo período, Portugal caiu 20 pontos, de 492 para 472. No caso português é preciso recuar até 2006 para observar um nível de resultados da mesma magnitude. Já nações como Singapura (575 pontos, um acréscimo de 13 pontos relativamente a 2018) e Taiwan (547 pontos, um acréscimo de 16 pontos no mesmo período) mantêm ou até aumentam os seus resultados nos estudos internacionais de ciclo para ciclo. O TIMSS 2019, focado em alunos do 8.º ano, confirma esta disparidade: os países asiáticos lideram, enquanto a maioria dos europeus fica aquém da média da OCDE (472 pontos).
Estes dados, representados na figura seguinte, mostram que o problema não é novo — há mais de uma década que os resultados europeus estão em declínio. Portugal, que até 2015 era o único país da OCDE com crescimento positivo nos resultados do PISA, reverteu esse crescimento, e não só se alinhou a partir de 2016 com a pioria contínua dos países da Europa e da América do Norte, como registou quebras superiores à média da OCDE.
O que podemos fazer?
O estudo não se limita a apontar o problema; sugere também soluções práticas que países, pais e professores podem adotar e apoiar:
- Currículos mais rigorosos: apostar em programas bem estruturados, progressivos e focados em matérias essenciais.
- Métodos de ensino eficazes: valorizar a instrução direta e avaliações válidas, fiáveis e regulares, em vez de reduzir as exigências dos currículos e das provas.
- Apoio personalizado: dar atenção extra aos alunos em dificuldades com tutorias específicas e, ao mesmo tempo, desafiar os mais avançados com oportunidades de aprofundamento.
- Consciência da importância da matemática: mostrar aos alunos (e às famílias) como esta disciplina é crucial para o exercício da cidadania plena nas sociedades modernas.
- Formação de professores: garantir que os docentes tenham uma preparação sólida em matemática e reconhecimento social que levem os nossos jovens a seguir esta profissão. A escola é um elemento fundamental das sociedades, e os professores são o garante do futuro dos nossos jovens.
Um apelo à ação
O principal alerta do estudo é claro: ignorar esta crise é condenar as próximas gerações a um futuro menos participativo nas sociedades modernas. Para os países, é uma chamada à ação, visando a melhoria muito séria do ensino. Para os professores, é um convite a lutar por melhores condições de ensino e a inspirar os alunos. Para os pais, é um apelo a exigir uma educação de qualidade e a valorizar a matemática em casa. Reconhecer o problema é o primeiro passo; agir, o mais urgente.
Referência bibliográfica
Crato, N., & Marôco, J. (2024). Should mathematicians worry with PISA and TIMSS math results? EMS Magazine, 133, 42-47. https://doi.org/10.4171/MAG/210
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