Sabia que um em cada três alunos sofre de ansiedade associada aos testes, também conhecida por ansiedade de realização escolar? Culpa-se muitas vezes a ansiedade pelos maus resultados de alunos com esta condição, mas a relação exata entre a ansiedade sentida nos exames e o sucesso académico ainda não é evidente. Um estudo recém-publicado explora a relação entre a ansiedade e o desempenho dos alunos, além do seu papel no estudo. Destaca-se uma conclusão: quanto maior for a ansiedade sentida durante o período de preparação, menor será o conhecimento adquirido e piores os resultados.
É comum pensar que a ansiedade sentida num exame interfere com a capacidade de o aluno transferir o seu conhecimento para essa prova. A ansiedade é por isso bastante associada a um pior desempenho académico. Três investigadores — Maria Theobald, Jasmin Breitwieser e Garvin Brod — formularam a hipótese de que, se assim fosse, os alunos mais ansiosos obteriam piores resultados em exames reais do que em sessões de revisão da matéria ou em exames simulados. Além disso, seria possível estabelecer uma correlação entre quebras no desempenho e os níveis de ansiedade sentidos pelos alunos durante as provas.
Para testarem esta hipótese, os investigadores conduziram na Alemanha um estudo com 309 estudantes de Medicina que se preparavam para realizar o exame final, o mais importante do curso. Este exame continha 230 perguntas de escolha múltipla e estava dividido em três partes, de cinco horas cada uma, ao longo de três dias consecutivos. Nos 100 dias anteriores ao exame final, todos os alunos utilizaram uma plataforma de aprendizagem digital que apresentava questões de exames antigos e registava o seu desempenho diário, determinando a percentagem de questões que cada aluno acertava. Todos os participantes também concluíram exames simulados — comparáveis ao exame final na duração e na dificuldade — durante os 28 dias antes das provas finais. Para determinar o nível de ansiedade, os alunos responderam a perguntas como «sinto-me tenso e nervoso» numa escala de um a cinco. Estas questões foram feitas todos os dias, durante os 40 dias anteriores ao exame final e também no dia dessa prova. Os alunos que fizeram o exame simulado responderam às mesmas questões.
Os resultados deste estudo foram surpreendentes. A ansiedade registada no dia do exame final não determinou o desempenho do aluno nessa prova. Já o nível de conhecimento mostrado pelo aluno durante os exames simulados e as atividades de revisão ajudou a prever a nota obtida: os alunos com um bom desempenho nos testes simulados também tiveram um bom desempenho no exame final, qualquer que fosse o seu nível de ansiedade. Porém, também se descobriu que a ansiedade durante esse período de preparação para o exame prejudicava a aquisição eficiente do conhecimento e, por conseguinte, seria responsável por piores resultados.
Apesar de os autores reconhecerem a possibilidade de a ansiedade interferir no desempenho do aluno em determinados contextos académicos, os resultados deste estudo sugerem que esta associação negativa entre a ansiedade e o desempenho académico é deveras complexa e começa já muito antes do momento do exame.
Estas conclusões têm implicações relevantes para os alunos mais ansiosos em particular, pois sugerem que uma mudança na abordagem da preparação para um exame os poderá ajudar a ter melhores resultados. Os autores propõem duas estratégias para reduzir a ansiedade durante o estudo de preparação: o fortalecimento da autoconfiança e a relativização da importância do exame. Os investigadores assinalam também a necessidade imperativa de novas pesquisas para o desenvolvimento de intervenções que facilitem a aquisição efetiva de conhecimento em alunos ansiosos.
Bibliografia
Theobald, M., Breitwieser, J., & Brod, G. (2022). Test Anxiety Does Not Predict Exam Performance When Knowledge Is Controlled For: Strong Evidence Against the Interference Hypothesis of Test Anxiety. Psychological Science, 33(12), 2073–2083. https://doi.org/10.1177/09567976221119391
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