A memória de trabalho é um conceito importante e relativamente simples que influencia a forma como pensamos sobre a aprendizagem e sobre a memória, pelo que considerei útil redigir um breve resumo sobre o que significa, como funciona e qual a sua importância.
O que é a memória de trabalho?
A memória de trabalho é a capacidade humana de manipular e recordar informação num curto espaço de tempo (cerca de dois minutos). É muito semelhante à memória de curto prazo; no entanto, quando utilizamos o termo memória de trabalho, estamos a colocar uma maior ênfase na capacidade de manipular informação. Por exemplo, se alguém lhe pedir para anotar um número de telefone, poderá ter de repetir o número silenciosamente, para si próprio, até encontrar um bloco de notas. Essa tarefa pode tornar-se mais difícil se continuar a conversar enquanto procura o bloco de notas. A sua capacidade de manter uma conversa, enquanto procura um bloco de notas e repete mentalmente um número de telefone, é a sua memória de trabalho.
A capacidade de memória de trabalho varia de pessoa para pessoa. Para algumas pessoas, a tarefa descrita acima pode parecer praticamente impossível - na maioria das vezes estas pessoas não encontram o bloco de notas, não conseguem acompanhar a conversa ou não se conseguem lembrar do número. Para outras pessoas, a tarefa é um bocado mais fácil – ainda que possa ser desafiante, estas pessoas conseguem acompanhar uma conversa, encontrar uma forma de anotar o número de telefone e lembrar-se do número sem vacilar.
Estas diferenças de capacidade de memória de trabalho têm sido associadas à compreensão escrita1, à lógica e ao raciocínio2,3, e ao QI4. Devido à sua forte ligação com o contexto académico, foram realizados vários estudos no sentido de explicar estas diferenças e de encontrar possíveis formas de melhorar a memória de trabalho, sobretudo em crianças em idade escolar5.
Referências
(1) Daneman, M., & Carpenter, P. A. (1980). «Individual differences in working memory and reading». Journal of Verbal Learning and Verbal Behavior, 19, 450-466.
(2) Kyllonen, P. C., & Christal, R. E. (1990). «Reasoning ability is (little more than) working memory capacity». Intelligence, 14, 389-433.
(3) Kyllonen, P. C., & Stephens, D. L. (1990). «Cognitive abilities as the determinants of success in acquiring logic skills». Learning and Individual Differences, 2, 129-160.
(4) Engle, R. W., Tuholski, S. W., Laughlin, J. E., & Conway, A. R. A. (1999). «Working memory, short-term memory, and general fluid intelligence: A latent-variable approach». Journal of Educational Psychology, 104, 976-987.
(5) Gathercole, S. E., Pickering, S. J., Ambridge, B., & Wearing, H. (2004). «Working memory skills and educational attainment: Evidence from National Curriculum assessments at 7 and 14 years of age». Applied Cognitive Psychology, 40, 1-16.
(6) Norman, D. A., & Shallice, T. (1986). «Attention to action: Willed and automatic control of behaviour». In R.J. Davidson, G. E. Schwartz, & D. Shapiro (Eds.), Consciousness and self-regulation. Advances in research and theory (Vol. 4, pp. 1-18). New York: Plenum Press.
(7) Cowan, N. (1988). «Evolving conceptions of memory storage, selective attention, and their mutual constraints within the human information-processing system». Psychological Bulletin, 104 (2), 163-191.
(8) Engle, R. W. (1996). «Working memory and retrieval: An inhibition-resource approach». In J.T.E. Richardson, R.W. Engle, L. Hasher, R. H. Logie, E. R. Stoltfus, & R. T. Zacks (Eds.), Working memory and human cognition (pp. 89-119). New York: Oxford University Press.
(9) Holmes, J., Gathercole, S. E., Place, M., Dunning, D. L. Hilton, K. A., & Elliott, J. G. (2010). «Working memory deficits can be overcome: Impacts of training and medication on working memory in children with ADHD». Applied Cognitive Psychology, A24, 827-836.
AUTOR