pt en
Newsletter
glossario

saber mais

Alternar entre ideias e exercícios durante uma sessão de estudo é um poderoso método para aumentar a aprendizagem. É especialmente indicado para fomentar a aprendizagem indutiva como operações matemáticas para resolver problemas ou aprender espécies animais com base em fotografias. E pode ser usado na sala de aula.

Misturar itens que têm de ser aprendidos resulta melhor do que estudar cada matéria separada por blocos sendo esse efeito maior na aprendizagem de materiais visuais e conceitos matemáticos. Esta é a principal conclusão de uma revisão sistemática sobre os benefícios do estudo intercalado feita recentemente por Matthias Brunmair e Tobias Richter. Mas o que é o estudo intercalado? Intercalar consiste em “misturar” os itens, de diferentes categorias ou tópicos, a ser aprendidos, em vez de os estudar divididos por categoria ou tópico (como exemplo, ver na figura em baixo). Intercalar materiais de estudo, ou alternar entre ideias e exercícios durante uma sessão de estudo, é considerado um poderoso método para aumentar a aprendizagem e pode facilmente ser implementado em sala de aula (ver Rohrer, 2012). Intercalar é especialmente indicado para fomentar a aprendizagem indutiva, quando conceitos gerais são aprendidos através do estudo de exemplares (por exemplo, operações matemáticas usadas para resolver problemas matemáticos, espécies animais aprendidas através do estudo de fotografias de espécimes, ou distúrbios psicológicos aprendidos através de estudos de caso).

Quando é necessário aprender diferentes itens de diferentes categorias, intercalar consiste em “misturar” os exemplares das diferentes categorias em vez de se estudar todos os exemplares de cada categoria em bloco. Por exemplo, Kornell e Bjork (2008) pediram a participantes que aprendessem a identificar pintores impressionistas (cada pintor representava uma categoria), apresentando pinturas em bloco – seis blocos de seis pinturas do mesmo artista, resultando num artista por bloco – ou de forma intercalada – seis blocos de seis pinturas de seis diferentes artistas, resultando em seis artistas por bloco. Num teste final em que lhes eram apresentadas pinturas não estudadas previamente, os participantes que tinham estudado de forma intercalada eram melhores a identificar correctamente quem tinha pintado cada uma das novas pinturas do que os participantes que tinham estudado os artistas em bloco. Este benefício do estudo intercalado foi estendido a outros materiais, como a identificação de psicopatologias (por exemplo, Zulkiply & Burt, 2013) e problemas matemáticos envolvendo geometria ou estatística (por exemplo, Rohrer & Taylor, 2007). No entanto, em alguns casos, alguns investigadores não encontraram benefícios no uso de estudo intercalado (por exemplo, Dobson, 2011, que testou o efeito com passagens expositivas sobre fisiologia). 

A revisão sistemática: intercalar vs. estudar em bloco

Brunmair e Richter reviram 59 estudos que compararam os efeitos de estudo intercalado com os efeitos de estudo em bloco na aprendizagem. Nestas investigações, o tempo de estudo e o espaçamento eram iguais para ambas as condições. Os autores usaram um total de 283 comparações de interesse para conduzir uma metaanálise que indicou um benefício moderado do estudo intercalado. No entanto, o tamanho deste benefício parece depender dos tipos de materiais a ser aprendidos. O estudo intercalado levou a um grande aumento da aprendizagem de pinturas e outros materiais pictóricos, mas apenas melhorou modestamente a aprendizagem de problemas matemáticos. No caso de textos expositivos, intercalar o estudo não se revelou melhor do que estudar em bloco. E, em comparação com o estudo intercalado, o estudo em bloco pareceu favorecer a aprendizagem de palavras, regras de pronúncia, e traduções em diferentes línguas. No entanto, os autores chamam a atenção para o facto de estes efeitos negativos do estudo intercalado de palavras poderem ser atribuídos a factores específicos das experiências analisadas, e sugerem que não se deverão extrair conclusões generalizadas. Isto porque também verificaram que os benefícios do estudo intercalado são maiores quando as categorias a serem aprendidas são mais semelhantes entre si e os itens pertencentes a cada categoria são menos semelhantes entre si, e estes benefícios apenas ocorrem quando os itens a serem aprendidos são estudados em sucessão imediata.

Esta metaanálise sugere ainda que os benefícios do estudo intercalado são mais fortes quando a aprendizagem é intencional, o que indica que a estratégia de estudo intercalado poderá ser especialmente útil em contextos escolares, de aprendizagem formal. 

Tendo em conta estes resultados, Brunmair e Richter (2019) concluem que intercalar o estudo de itens de diferentes categorias ou tópicos é uma estratégia de estudo promissora, especialmente para a aprendizagem de materiais visuais e conceitos matemáticos. No entanto, deverá ser usada com precaução em certas condições, especialmente no caso da aprendizagem de textos ou palavras. É também importante referir que o estudo intercalado é diferente do estudo espaçado, cujos benefícios tendem a estender-se a todos os tipos de materiais e tópicos. Em todo o caso, intercalar e espaçar o estudo podem ser estratégias complementares. A figura em cima mostra um exemplo da implementação do estudo intercalado em operações matemáticas básicas. Este exemplo presume que o estudante terá já sido introduzido às quatro operações básicas (adição, subtracção, multiplicação e divisão) e encontra-se a praticar exercícios, de modo a adquirir o domínio total destas operações e o conhecimento geral dos conceitos implicados em cada uma.

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o Novo Acordo Ortográfico.

Referências

Brunmair, M., & Richter, T., «Similarity matters: A meta-analysis of interleaved learning and its moderators», Psychological Bulletin, 145(11), 2019, 1029.

Dobson, J. L., «Effect of selected “desirable difficulty” learning strategies on the retention of physiology information», Advances in Physiology Education, 35, 2011, pp. 378-383.

Kornell, N., & Bjork, R. A., «Learning concepts and categories: Is spacing the “enemy of induction”?», Psychological science, 19(6), 2008, pp. 585-592.

Rohrer, D., «Interleaving helps students distinguish among similar concepts», Educational Psychology Review, 24(3), 2012, pp. 355-367.

Rohrer, D., & Taylor, K., «The shuffling of mathematics problems improves learning», Instructional Science, 35(6), 2007, pp. 481-498.

Zulkiply, N., & Burt, J. S., «The exemplar interleaving effect in inductive learning: Moderation by the difficulty of category discriminations», Memory & Cognition, 41(1), 2013, pp. 16-27.

AUTOR

Ludmila D. Nunes é escritora científica para a Association for Psychological Science (APS). Doutorada em Psicologia pela Universidade de Lisboa, desenvolveu a sua investigação na área de Memória Humana e Aprendizagem na Washington University in St. Louis, na Universidade de Purdue, e na Universidade de Lisboa. 

Além da investigação, deu aulas de Introdução à Psicologia Cognitiva e de Memória Humana na Universidade de Purdue e foi revisora para várias publicações científicas.

Email: ludmilasdnunes@gmail.com

Receba as nossas novidades e alertas

Acompanhe todas as novidades.
Subscrever