Estudo de investigadoras da Universidade Católica Portuguesa, em crianças dos quatro aos seis anos, reforça a ideia de que os meninos tendem a ser mais rápidos no cumprimento de instruções, enquanto as meninas privilegiam a precisão na resposta.
É comummente aceite que as meninas manifestam maturidade na regulação de comportamentos mais cedo do que os rapazes. Alguns estudos já tinham apontado neste sentido, mas três investigadoras da Universidade Católica Portuguesa (UCP) quiseram perceber quais as diferenças entre os dois sexos relativamente ao controlo de resposta numa tarefa inibitória. Ao longo de dois anos (2017 a 2019) foram avaliadas 160 crianças do ensino pré-escolar, 85 meninos e 75 meninas, dos quatro aos seis anos, através de dois tipos de testes padrão, frequentemente usados em estudos cognitivos, e que se baseiam numa resposta motora e numa resposta verbal.
Uma das principais conclusões do trabalho foi que as meninas demoram mais tempo a responder nos desafios motores – seguindo a indicação “apanhar um peixe”, por exemplo – mas erram menos. “As meninas são mais lentas ou retardam as suas respostas para aumentar sua precisão porque têm uma maior perceção da dificuldade ou do risco da tarefa do que os meninos”, escrevem as autoras Filipa Ribeiro, Rita Cavaglia e Joana R. Rato do Instituto de Ciências da Saúde da UCP. Este resultado, que aponta para tempos de resposta mais lentos, com maior precisão, está de acordo com uma hipótese que explica os processos de tomada de decisão, segundo a qual a precisão na resposta varia de acordo com o tempo gasto a responder. As decisões ou são tomadas lentamente com alta precisão ou rapidamente com maior taxa de erro. Depressa e bem não há quem, já diz o ditado.
Efetivamente, os meninos foram em geral mais rápidos a cumprir as tarefas nos testes baseados em resposta motora. Já nos testes baseados em resposta verbal, os resultados foram praticamente os mesmos, em ambos os sexos, assim como os tempos de resposta. “Nesta tarefa, os meninos não foram tão pressionados a responder e não houve diferenças entre os sexos no que se refere à eficiência”, lê-se no artigo científico que descreve o trabalho, recentemente publicado na revista Cognitive Development. Estudos anteriores, citados pelas autoras, já tinham indicado que os meninos são geralmente mais rápidos em tarefas executivas e as meninas são melhores em tarefas verbais. Sendo assim, avança-se, o padrão diferente, encontrado nos dois tipos de testes, pode ser “um reflexo dessas diferenças sexuais subjacentes ao processamento cognitivo em tarefas com restrições de tempo.”
As autoras sublinham ainda que a questão da velocidade na resposta não será a única explicação para esta “superioridade feminina” em tarefas que avaliam a capacidade de autocontrole, como é o caso deste tipo de testes, já que trabalhos anteriores, baseados em cumprimento de tarefas motoras, chegaram à mesma conclusão, apesar de não existirem diferenças no tempo de reação, tanto em crianças como em adultos.
Diferenças individuais na impulsividade, em crianças de quatro a seis anos, têm vindo a ser correlacionadas com a capacidade das crianças de regular o seu comportamento e as emoções, influenciando também a decodificação do discurso e o sentido das palavras.
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