Um estudo recente demonstra que nada é mais importante no crescimento económico — sobretudo a longo prazo — do que uma educação equitativa e de qualidade. Com base em testes de desempenho internacionais, os investigadores começaram por estimar a proporção de jovens que não atingem um nível básico de competências: são dois terços em todo o mundo. A análise económica feita sugere que conseguir esse objetivo adicionaria 718 biliões de dólares ao produto interno bruto (PIB) do mundo.
Um estudo recente mostra que não há nada mais importante no crescimento económico do que uma educação equitativa e de qualidade. Nesta vasta investigação conduzida por Sarah Gust (Instituto ifo), Eric Hanushek (Universidade de Stanford) e Ludger Woessmann (Universidade de Munique), selecionou-se uma amostra de 159 países, cobrindo 98% da população e 99% do PIB mundial.
Os investigadores mediram a proporção de alunos que não atingem os níveis básicos de competências, em cada país, em matemática e ciências. Para isso, reuniram os últimos dados disponíveis de testes de desempenho internacionais — o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) e o o Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências (TIMSS) — e regionais, além de fontes alternativas, para atribuir valores aos países que não participaram nos testes.
Os resultados sugerem que há um longo caminho a percorrer para atingir esse objetivo. Considerando-se apenas os jovens que frequentam atualmente a escola, 62% não atingem os níveis básicos de competências. Porém, este valor aumenta quando se incluem os que abandonaram a escola: 66%, ou seja, cerca de dois terços dos jovens de todo o mundo. Esta percentagem varia bastante entre países e regiões. A proporção chega a 96% nos países de rendimento baixo e a três quartos nos de rendimento elevado. Quanto a regiões, a percentagem varia: de 24% na América do Norte e 28% na Europa a 89% no Sul da Ásia e a 94% na África Subsariana. Em Portugal, o valor é de 23%, em linha com a média da União Europeia (24%). Estes números referem-se apenas à realidade pré-pandemia.
Os autores usaram essas estimativas para projetar os ganhos económicos de cada país se todos os jovens conseguissem as competências básicas de acordo com três cenários distintos: 1) melhoria da qualidade do ensino apenas para quem já frequenta a escola; 2) colocação de todos os jovens na escola, mantendo-se os níveis atuais de qualidade do ensino; e 3) integração de todos os jovens num ensino de melhor qualidade.
Os resultados da simulação indicam que atingir o referido objetivo conduziria a enormes ganhos económicos, sendo a qualidade do ensino decisiva. De acordo com as projeções baseadas em padrões históricos de crescimento a longo prazo, alcançar plenamente as competências básicas, no terceiro cenário, somaria 718 biliões de dólares ao PIB mundial, até ao fim do século XXI. Este valor equivale a mais de cinco vezes o atual PIB mundial por ano. Já os ganhos na participação escolar de todos os jovens mantendo-se a atual qualidade do ensino (cenário 2) seriam de apenas 176 biliões de dólares.
O mundo enfrenta assim o duplo problema do acesso à escola e da qualidade do ensino. As descobertas feitas sugerem que frequentar escolas de baixa qualidade não resolveria o problema da falta de competências básicas. Além disso, resolver o problema da falta de qualidade do ensino também não seria simples. No entanto, só uma atuação nestas duas frentes contribuiria para que conseguissem mais jovens participar ativamente na economia mundial moderna.
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