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A pandemia da covid-19 levou ao encerramento súbito de escolas em toda a Europa. Os professores e as direções escolares não estavam preparados para transitar subitamente para um sistema de ensino remoto, tendo sido obrigados a criar soluções de emergência. Como referimos numa primeira versão deste artigo, os estudos iniciais revelam que que tais medidas estão a gerar perdas de aprendizagem. Para reduzir e reverter os impactos negativos da pandemia a longo prazo, os governos terão de implementar programas de recuperação da aprendizagem, proteger os orçamentos para a educação e prepararem-se para futuros choques. Contudo, são necessários dados sobre mais países para se fazer uma avaliação mais precisa das consequências da pandemia na educação.

Até à data, apenas 12 países reportaram dados sobre o impacto do encerramento das escolas no aproveitamento escolar. Os resultados iniciais da Bélgica, República Checa, Alemanha, Países Baixos, Noruega, Rússia, Suíça e Reino Unido indicam a ocorrência de perdas reais de aprendizagem, com impactos mais significativos nos alunos provenientes de famílias menos instruídas.

De um modo geral, ocorreram perdas reais de aprendizagem em vários países da região europeia. Em resultado da primeira vaga de confinamento e do encerramento de escolas, a partir de março de 2020 cada estudante europeu perdeu, em média, o equivalente a meio ano do calendário escolar. Este impacto afeta o prosseguimento dos estudos, na medida em que pode comprometer o acesso a níveis de escolaridade superiores. De acordo com um estudo liderado por George Psacharopoulos, as perdas de capital humano poderão, a longo prazo, resultar num decréscimo de rendimentos financeiros para estes alunos na ordem dos milhares de milhões de dólares.

Contudo, nem todos os resultados são negativos. Em França, por exemplo, segundo uma investigação de William Thorn e Stéphan Vincent-Lancrin, os dados não são homogéneos. Até à data, o país registou níveis muito baixos de perdas de aprendizagem, embora o encerramento das escolas tenha tido impacto negativo na igualdade entre os alunos, com maiores prejuízos para os alunos menos favorecidos. Um trabalho de Jesper Fels Birkelund e Kristian Bernt Karlson mostra que na Dinamarca, por sua vez, não se registaram perdas de aprendizagem nem consequências na igualdade entre os alunos. Um estudo liderado por David Reimer aponta conclusões semelhantes, revelando que, ao que tudo indica, as crianças dinamarquesas foram muito bem acompanhadas em casa e os seus níveis de leitura aumentaram significativamente após o encerramento das escolas.

Sul da Europa

Ainda existe muito pouca informação sobre as perdas reais de aprendizagem em algumas regiões da Europa. No sul do continente, por exemplo, Itália recolheu informação sobre perdas de aprendizagem no ensino primário, secundário e superior, mas Espanha não coligiu quaisquer dados a este respeito (à exceção de uma faculdade). Em Itália, as capacidades matemáticas dos alunos do ensino primário deterioraram-se rapidamente após o encerramento das escolas, que durou cerca de 15 semanas. A pandemia teve um forte impacto no desempenho dos alunos, baixando as notas a Matemática com um desvio-padrão na ordem dos 0,19 – o que equivale a mais de meio ano de escolaridade. As consequências foram ainda mais expressivas entre os alunos provenientes de famílias menos instruídas, com perdas de aprendizagem equivalentes a mais de um ano de escolaridade entre os melhores alunos.

Resposta política

A longo prazo, a diminuição do aproveitamento escolar dos alunos poderá gerar desafios ainda mais complexos, decorrentes, por exemplo, do declínio do emprego, dos níveis salariais, do crescimento económico e do aumento das taxas de pobreza em vários países. Para enfrentar estes desafios são necessários mais dados sobre perdas reais de aprendizagem e, posteriormente, será preciso criar estratégias de recuperação que colmatem estas perdas.

Alguns exemplos de respostas políticas potencialmente úteis incluem:

1.    A implementação de programas de recuperação de aprendizagem. No imediato, os governos terão de garantir que os alunos que perderam oportunidades de aprendizagem recebem o apoio necessário para atingirem os objetivos educacionais definidos. O primeiro passo terá de envolver a realização atempada de avaliações que permitam identificar estes alunos e as respetivas necessidades de apoio. Uma investigação de Andre Nickow, Philip Oreopoulos e Vincent Quan mostrou que um programa de 12 semanas de aulas particulares pode levar os alunos a recuperarem o equivalente a entre três e cinco meses de escolaridade. Em Itália, um estudo de Michela Carlana e Eliana La Ferrara revelou que um grupo de alunos do ensino secundário que usufruiu gratuitamente de 3 a 6 horas de aulas particulares online, por semana, através de um computador, tablet ou smartphone, obteve ganhos de aprendizagem com um desvio-padrão na ordem dos 0,26 (o equivalente a cerca de um ano de escolaridade).

2.    A proteção do orçamento para a educação. Reduções no orçamento para a educação poderão comprometer os progressos alcançados nos últimos anos quanto ao acesso à educação e às melhorias da aprendizagem. É fundamental que os governos protejam estes orçamentos e garantam o financiamento das escolas que mais necessitam de apoio.

3.    Uma melhor preparação para futuros choques. Não basta que o sistema educativo recupere dos impactos da pandemia, também é necessário que utilize esta experiência para se preparar melhor para crises futuras. Para isso, os países deverão desenvolver capacidades que lhes permitam garantir um ensino virtual de qualidade no futuro, implementando currículos flexíveis que possam ser ensinados quer presencialmente, quer remotamente.

Contudo, antes da aplicação de qualquer uma destas medidas, é fundamental que os países recolham informação sobre o aproveitamento escolar dos alunos. Existem 44 países na Europa e, no entanto, apenas 12 disponibilizam dados a este respeito!

Bibliografia

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AUTOR

Harry Anthony Patrinos é atualmente o Practice Manager de educação do Banco Mundial para a região da Europa e Ásia Central. Doutorado pela Universidade de Sussex, integrou o Conselho Económico do Canadá e é autor de mais de 40 artigos em revistas científicas e outras publicações especializadas. Ao longo da sua carreira, Harry Patrinos tem liderado programas de estudo e financiamento na área da educação na Argentina, Colômbia e México. Destes, destaca-se o projeto regional de investigação sobre as condições socioeconómicas dos povos indígenas da América Latina, publicado pela editora Palgrave Macmillan sob o título Indigenous Peoples, Poverty and Human Development in Latin America (2006).

Harry Patrinos é também coautor das seguintes obras: Policy Analysis of Child Labor: A Comparative Study (St. Martin’s, 1999), Decentralization of Education: Demand-Side Financing (World Bank, 1997) e Indigenous People and Poverty in Latin America: An Empirical Analysis (World Bank/Ashgate, 1994).

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