pt
Newsletter
glossario

saber mais

Em educação, há informações que tomamos por verdadeiras porque as ouvimos repetidamente ou porque nos parecem de senso comum. E se a ciência desmentisse tais informações ou se não houvesse evidências científicas que as comprovassem? É importante desconstruir alguns destes mitos e valorizar a combinação das neurociências, psicologia e educação para melhorar a qualidade do ensino. É esta a ideia central do livro «Mente, Cérebro e Educação», da psicóloga Joana Rato, que aqui resumimos.

As descobertas científicas sobre o funcionamento do cérebro e as suas aplicações nos processos de ensino-aprendizagem têm despertado um crescente entusiasmo em profissionais de outros campos científicos, como os professores. Porém, este interesse tem contribuído para uma distorção de conceitos e de resultados das pesquisas, perpetuando-se os chamados neuromitos: crenças sem evidência científica sobre o funcionamento e a estrutura do cérebro.

Foi a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico que, já em 2002 e 2007, começou a chamar a atenção para a proliferação de tais equívocos entre a camada docente.  Grande parte dos mitos até tem um fundamento científico, o que, por vezes, dificulta a sua refutação. Cria-se um mito quando há uma distorção, uma simplificação excessiva ou uma generalização exagerada de descobertas da neurociência. Alguns mitos até se poderão revelar verdadeiros, mas, até a um dado momento, não há evidências científicas que o comprovem.

O número de neuromitos tem vindo a aumentar ao longo dos anos. Em 2018, estavam identificados quase 70. Em 2020, já se aproximam dos 100. Há dois mais populares na educação. O mito dos estilos de aprendizagem preferenciais, em que se considera que os alunos aprendem melhor quando recebem informação no seu estilo preferido: auditivo, visual ou cinestésico. Porém, a investigação tem mostrado que, apesar de tais possíveis preferências, ensinar de acordo com estas não promove mais a aprendizagem. Outro mito popular preconiza a pedagogia da descoberta como a única eficaz. Mas, se há evidências científicas de que o método de instrução direta (tradicional) favorece a aprendizagem, os resultados dos estudos sobre a pedagogia centrada no aluno são já ambíguos quanto a melhorias efetivas a níveis cognitivo e académico.

Em Portugal, e num estudo publicado já em 2013, verificou-se que uma amostra robusta de docentes apresentou dificuldade em distinguir mitos de factos neurocientíficos. Foram três os neuromitos mais prevalentes: além do mito dos estilos de aprendizagem, o mito das múltiplas inteligências – argumentando a existência de diferentes tipos independentes de inteligência – e o mito da dominância do lado esquerdo (e lógico) do cérebro versus o do lado direito (e criativo) do cérebro, ou vice-versa.

Qual o impacto ou os possíveis danos destes mitos no ensino? Os resultados das pesquisas ainda são inconclusivos. Por um lado, pode pensar-se num impacto inofensivo. Um estudo realizado na Universidade de Melbourne mostrou que professores premiados pela sua excelência no ensino também apresentavam crenças em tais mitos, inferindo-se que isso à partida não afetaria o seu bom desempenho. Por outro lado, a autora acredita que mais pesquisas seriam necessárias para avaliar a real extensão deste risco.

Uma solução passa por ampliar o campo científico Mente, Cérebro e Educação (também conhecido por Neurociência Educacional ou Neuroeducação), em que se interligam as Neurociências, a Psicologia e a Educação. Esta proposta transdisciplinar defende o uso de vocabulário entendido por neurocientistas e educadores e a partilha de bases de dados atualizadas. Além de formações iniciais e contínuas de professores em práticas atualizadas e de assessoria com profissionais qualificados, é ainda fundamental a colaboração entre instituições escolares e de ensino superior para mais projetos colaborativos de investigação-ação com cálculo rigoroso da aplicação prática nas escolas. Este diálogo mais direto daria menos margem a interpretações erróneas e promoveria a tão desejada base científica forte no ensino e na aprendizagem.

Quer saber mais?

Leia o ensaio da psicóloga Joana Rato, editado pela FFMS

Clique aqui

AUTOR

Iniciativa Educação

ver Artigos do autor

Receba as nossas novidades e alertas

Acompanhe todas as novidades.
Subscrever