Desvantagens?! Mas há desvantagens em ser bom professor?
Desvantagens?! Mas há desvantagens em ser bom professor? Sim. Vejamos quais. Segundo um artigo de investigação recentemente publicado, um professor que consiga promover aulas interessantes, com explicações bem organizadas e claras, pode criar nos alunos a ilusão de que aprenderam mais e melhor, quando, na realidade, as suas notas não são diferentes das de alunos que tiveram aulas menos fáceis de seguir. Ainda que ter alunos interessados tenha inúmeras vantagens, esta ilusão de aprendizagem pode também ter consequências negativas.
Num artigo publicado em Junho de 2019, Shana Carpenter, Uma Tauber e Alexander Toftness examinaram como a fluência das aulas pode afectar tanto o modo como os alunos avaliam o seu saber como as suas notas. Assim, um grupo de alunos assistiu a um vídeo de uma aula sobre teoria da informação, apresentada por um professor com postura recta, confiante, e que mantinha contacto visual, gesticulava, e utilizava um discurso apelativo. Outro grupo viu um vídeo com um professor debruçado sobre um pódio, menos confiante, que não mantinha contacto visual, lia a partir dos seus apontamentos, e falava de forma monótona. Embora o conteúdo dos vídeos fosse o mesmo, os estudantes avaliaram a sua aprendizagem como superior quando o professor era mais fluente e confiante. No entanto, todos os alunos tiveram resultados semelhantes num teste sobre essa aula. Os investigadores providenciaram aos alunos informação sobre a experiência do professor e isso não influenciou o quanto os alunos pensaram ter aprendido nem o seu desempenho no teste.
Estes resultados sugerem, então, que a forma como as aulas são dadas não é importante porque os alunos terão sempre resultados semelhantes num teste final? Não necessariamente. O facto de os alunos terem acreditado que aprenderam mais quando a aula era fácil de seguir pode ter duas implicações:
(a) os alunos serão mais assíduos a esse tipo de aulas e demonstrarão mais interesse nos tópicos abordados, o que pode beneficiar o seu desempenho escolar; ou
(b) acreditarão que aprenderam o suficiente durante a aula e vão estudar menos por si próprios, o que pode prejudicar o seu desempenho escolar.
O estudo apresentado foi conduzido num laboratório e não clarifica completamente estas duas possíveis consequências de um aumento das estimativas de aprendizagem por parte dos alunos. Em todo o caso, os investigadores mostram que o grupo que assistiu à aula mais fácil de seguir mostrou intenção de recomendar a aula a outros alunos, avaliou o professor mais positivamente, sentiu-se mais motivado para aprender, e mais interessado nos tópicos da aula.
Um professor entusiástico pode aumentar o interesse dos alunos
Assim, um professor entusiástico, que torna as suas aulas fáceis de seguir, pode aumentar o interesse e interacção dos alunos. Mas, na verdade, este interesse pode não só não aumentar as notas, como sugere esta investigação, como pode até prejudicar a aprendizagem em sala de aula, caso os estudantes não se preparem suficientemente para testes futuros, porque pensam que já aprenderam tudo o que deviam ter aprendido. Mas, então, que solução nos resta? Por um lado, queremos alunos motivados e interessados, por outro, queremos que eles tenham uma ideia precisa do que sabem e do que não sabem – isto é, que façam julgamentos metacognitivos precisos – para que possam estudar e preparar-se para os seus exames mais eficazmente.
A melhor abordagem poderá então passar por criar aulas que motivem e interessem os alunos, usando simultaneamente estratégias que aumentem a sua capacidade de avaliar o que sabem.
Algumas estratégias para aumentar a capacidade metacognitiva incluem:
- pedir aos alunos que avaliem o seu conhecimento alguns dias após a aula e, se possível, após terem tido a oportunidade de contactar de novo com os tópicos da aula através de alguma actividade, o que deverá minimizar os efeitos da facilidade da aula nas estimativas de aprendizagem;
- fazer com que os alunos recordem o conteúdo da aula usando a sua memória, através de testes, antes de avaliarem o seu conhecimento, o que os levará a perceber que o facto de a aula ter sido tão facilmente seguida e codificada poderá não significar que será facilmente relembrada;
- dar feedback aos alunos após as suas tentativas de recuperação do conteúdo da aula, o que fará com que estes percebam que alguma informação que julgavam ter aprendido poderá não o ter sido.
Em suma, aulas interessantes e fáceis de seguir que incluam oportunidades para os alunos avaliarem o seu conhecimento poderão ser uma boa opção para aumentar a aprendizagem. Aulas apresentadas por um professor confiante, que mantém contacto visual com os alunos, gesticula para enfatizar ideias importantes, e usa um discurso apelativo provavelmente aumentarão o interesse e motivação dos alunos. Pedir aos alunos para avaliar o quanto aprenderam após um intervalo de tempo e após terem tido oportunidade de testar os seus conhecimentos e ainda dar-lhes feedback provavelmente reduzirá a sobreavaliação de aprendizagem que tende a acompanhar aulas interessantes.
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.
Referências
Anderson, M. C., e Thiede, K. W., «Why do delayed summaries improve metacomprehension accuracy?», Acta Psychologica, 128, 2008, pp. 110-118.
Carpenter, S. K., Northern, P. E., Tauber, S. U., e Toftness, A. R., «Effects of lecture fluency and instructor experience on students’ judgments of learning, test scores, and evaluations of instructors», Journal of Experimental Psychology: Applied, 2019
Dunlosky, J., Rawson, K. A., e Middleton, E. L., «What constrains the accuracy of metacomprehension judgments? Testing the transfer-appropriate-monitoring and accessibility hypotheses», Journal of Memory and Language, 52, 2005, pp. 551-565.
Rawson, K. A., e Dunlosky, J., «Improving students’ self-evaluation of learning for key concepts in textbook materials», European Journal of Cognitive Psychology, 19, 2007, pp. 559-579.
Thiede, K. W., Anderson, M., e Therriault, D., «Accuracy of metacognitive monitoring affects learning of texts», Journal of Educational Psychology, 95, 2003, pp. 66-73.
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