Os alunos com conhecimentos e capacidades mais avançadas do que as dos colegas da mesma idade podem ter benefícios intelectuais se forem postos em turmas mais avançadas ou em programas de ensino mais exigentes e rápidos para a sua idade. No entanto, muitos professores e encarregados de educação consideram a prática potencialmente perigosa para o desenvolvimento social e emocional dos alunos. Um estudo recente mostra que não parece haver razão para preocupações: os alunos com uma educação acelerada não reportam mais problemas socioemocionais ou menos bem-estar psicológico ao longo da vida do que os alunos com uma educação regular.
É possível acelerar a formação académica de um aluno que demonstre os conhecimentos necessários — ou seja, pô-lo num ano de escolaridade mais avançado do que o normal na sua idade e/ou a frequentar aulas mais avançadas e intensivas do que os seus colegas. Mas será essa uma boa prática? Parece que sim, segundo um estudo recente de Brian Bernstein, David Lubinski e Camilla Benbow, da Universidade de Vanderbilt. Neste estudo, publicado em 2021, os investigadores seguiram alunos durante 35 anos e examinaram os efeitos a longo prazo da educação acelerada, nomeadamente no bem-estar psicológico dos participantes.
Apesar de a educação acelerada ser recomendada por vários grupos de especialistas e considerada das melhores práticas pelo Painel Consultivo Americano de Matemática (2008), alguns professores e pais ainda se preocupam com os seus potenciais efeitos negativos. Os investigadores têm mostrado tratar-se de uma alternativa eficaz para alunos que aprendem materiais complexos e abstratos mais rapidamente do que a maioria dos alunos. Ainda assim, educadores e encarregados de educação têm manifestado dúvidas quanto às consequências no desenvolvimento social e emocional dos alunos.
Para avaliar, de forma sistemática, os efeitos a longo prazo da aceleração académica, Brian O. Bernstein e os colegas conduziram dois estudos. No primeiro, seguiram três grupos de alunos com altas capacidades durante 35 anos. Estes 1636 participantes faziam parte do grupo de alunos com notas mais elevadas em testes estandardizados quando tinham cerca de 13 anos (entre 1972 e 1983). Um grupo tinha alunos que estavam nos 1% dos melhores alunos, outro, alunos entre os 0,5% dos melhores alunos, e outro ainda, alunos entre os 0,01% dos melhores alunos. Todos preencheram questionários no momento em que foram seleccionados (aos 13 anos), após o ensino secundário (aos 18 anos) e ainda aos 50 anos.
Nos três grupos, os alunos que tiveram a sua educação acelerada não revelaram menor bem-estar psicológico aos 50 anos do que os outros alunos. Independentemente das capacidades destes alunos e do seu estatuto socioeconómico, assim como do grau de aceleração, a educação acelerada não influenciou cinco indicadores de bem-estar psicológico 35 anos mais tarde: afeto positivo, afeto negativo, satisfação com a vida, autoavaliações do seu valor e capacidades ou florescimento psicológico (percepções de sucesso nas suas relações, autoestima, propósito e optimismo). Estes resultados indicam que os adolescentes particularmente dotados parecem apreciar ambientes de ensino mais intensivos e exigentes do que teriam ao seu dispor caso a sua educação não tivesse sido acelerada.
Estes resultados foram corroborados por um segundo estudo, em que se testou um grupo de 478 alunos de doutoramento em programas de elite nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia ou matemática. Aqui, os participantes tinham cerca de 25 anos quando foram testados pela primeira vez e eram alunos do primeiro ou segundo ano de doutoramento. Neste primeiro questionário, os participantes responderam retrospetivamente a questões sobre oportunidades de educação acelerada que utilizaram antes de terminarem o ensino secundário, bem como sobre o nível de ensino e ocupação dos pais. Testados 25 anos mais tarde, os participantes que haviam tido oportunidades de educação acelerada e/ou terminado o ensino secundário mais cedo revelaram níveis de bem-estar psicológico (medido pelos mesmos indicadores do primeiro estudo) semelhantes aos dos participantes sem essa oportunidade. Mais uma vez, o estatuto socioeconómico dos alunos e pais não influenciou os resultados. Assim, os resultados do primeiro estudo, observados com uma amostra de alunos intelectualmente precoces, foram replicados numa amostra de alunos de programas de doutoramento de elite.
Os resultados destes dois estudos apontam para a ausência de efeitos negativos da educação acelerada no bem-estar psicológico ao longo da vida. Na realidade, estudos anteriores já tinham indicado que acelerar a educação de alunos não afectava o seu bem-estar e desenvolvimento social e emocional a curto prazo. Estes dados vêm assim reforçar a ideia de que os alunos talentosos com desempenhos de excelência não parecem ser prejudicados por uma educação mais acelerada e exigente.
Assim, parecem ser infundadas as preocupações de alguns professores e encarregados de educação quanto a possíveis efeitos tardios da aceleração académica na vida dos alunos. Não acelerar a educação de um aluno e mantê-lo em aulas que ensinam conteúdos que já dominam pode mesmo ter efeitos negativos.
Em resumo, além dos benefícios intelectuais de incluir alunos que mostrem ter as capacidades e os conhecimentos necessários em aulas mais avançadas, esta investigação vem mostrar que pôr alunos em turmas que correspondem ao seu nível de conhecimentos e capacidades — em vez de os manter em turmas com colegas da sua idade — não tem efeitos negativos no seu bem-estar psicológico futuro.
Bibliografia
Bernstein, B. O., Lubinski, D., & Benbow, C. P. (2021). Academic acceleration in gifted youth and fruitless concerns regarding psychological well-being: A 35-year longitudinal study. Journal of Educational Psychology, 113(4), 830-845.
Gross, M. U. (2006). Exceptionally gifted children: Long-term outcomes of academic acceleration and nonacceleration. Journal for the Education of the Gifted, 29(4), 404-429.
Kulik, J. A., & Kulik, C. C. (1992). Meta-analytic findings on grouping programs. Gifted Child Quarterly, 36, 73–77.
National Mathematics Advisory Panel. (2008). Foundations for success: The final report of the National Mathematics Advisory Panel. Washington, DC: U. S. Department of Education.
Rogers, K. B. (2004). The academic effects of acceleration. In N. Colangelo, S. G. Assouline, & M. U. M. Gross (Eds.), A nation deceived: How schools hold back America’s brightest students (pp. 47-57). Iowa City, IA: The University of Iowa.
Steenbergen-Hu, S., Makel, M. C., & Olszewski-Kubilius, P. (2016). What one hundred years of research says about the effects of ability grouping and acceleration on K–12 students’ academic achievement: Findings of two second-order meta-analyses. Review of Educational Research, 86, 849-899.
AUTOR