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Os resultados obtidos em 2021 no estudo internacional de avaliação da literacia de leitura dizem-nos que os alunos portugueses do 4.º ano leem pior do que em 2016 e do que em 2011. Ainda assim, os dados recentemente disponibilizados mostram que em 2021 os alunos portugueses obtiveram uma classificação 20 pontos acima do ponto central na escala do PIRLS, que é de 500 pontos.

O PIRLS – na sigla original, de Progress in International Reading Literacy Study – é conduzido pela Associação Internacional para a Avaliação da Desempenho Escolar (IEA, na sigla inglesa), de 5 em 5 anos. Para mais informação sobre o PIRLS pode consultar o sítio oficial. Em 2021 participaram no PIRLS 6111 mil alunos portugueses, 5936 pais, 376 professores e 196 diretores de escolas.e em 2021 os alunos portugueses obtiveram uma classificação 20 pontos acima do ponto central na escala do PIRLS, que é de 500 pontos.

A participação de Portugal no PIRLS permite-nos avaliar tendências ao longo do tempo e aferir, por comparação, como nos situamos relativamente a outros países participantes. Talvez tão ou mais interessante é o facto de o PIRLS permitir analisar a relação destes resultados de literacia de leitura, entendida como a capacidade de compreensão de textos narrativos e informativos, com o contexto individual, familiar e escolar dos alunos. Os resultados de 2021 mostram que os alunos que mais leem fora da escola, cujos pais estão mais envolvidos nas atividades escolares e os alunos que frequentaram a educação pré-escolar têm melhor desempenho. É possível estabelecer estas relações porque o estudo PIRLS inclui questionários aos pais, aos professores, aos diretores de escola e aos próprios alunos.

Uma relação importante diz respeito a um item do questionário aos pais, que se traduz na pergunta: “Antes de o(a) seu(sua) filho(a) começar o 1.º ano do 1.º ciclo do ensino básico, com que frequência fazia, ou alguém em sua casa fazia, a seguinte atividade com ele(a): Ler livros? Analisando as tendências desta prática de leitura em casa em Portugal desde 2011, vemos que os alunos beneficiam muito em termos de desempenho em leitura se forem expostos a leituras frequentes no seio familiar, antes de ingressar no ensino formal, obrigatório. As opções de resposta a esta questão são: frequentemente, às vezes, nunca ou quase nunca.

O gráfico abaixo mostra que cerca de 40% dos pais reportam terem lido frequentemente para os filhos durante o período pré-escolar. A percentagem de pais que reporta não ler ou quase nunca ler para os filhos situa-se entre os 4 e os 5 pontos percentuais. Verifica-se, também, que estas percentagens são da mesma ordem de grandeza para os três ciclos do PIRLS (2011, 2016 e 2021).

Já o gráfico seguinte mostra que à medida que aumenta a frequência de leitura em casa, aumenta também o desempenho dos alunos no 4.º ano do 1.º ciclo do ensino básico. A diferença entre o desempenho dos alunos que tinham práticas de leitura em casa e os alunos cujos pais não leram (ou quase nunca leram) para eles varia entre os 49 e os 56 pontos na escala do PIRLS. Neste tipo de estudos internacionais, valores desta ordem de grandeza correspondem a cerca de um ano e meio de escolaridade.

Ler para os mais novos pode não o ser o único fator que contribui para formar bons leitores, mas esta relação simples mostra a sua importância. A evidência científica vai no mesmo sentido. Como apontado por Duff, Stanovich e outros investigadores, a leitura de livros, e em particular de álbuns ilustrados para a infância, oferece vocabulário variado e uma linguagem mais complexa do que aquela que usamos oralmente, o que suporta a futura compreensão da leitura quando os alunos já leem autonomamente. 

O Plano Nacional de Leitura (PNL) disponibiliza vários recursos para promover hábitos de leitura desde o berço, incluindo recomendações de livros por faixa etária e sugestões de materiais e estratégias de leitura a serem implementadas por pais, professores e bibliotecários.

Estes recursos estão disponíveis no sítio oficial do Plano Nacional de Leitura. Podemos ainda encontrar sugestões para a leitura de histórias para alunos com dificuldades de leitura no portal da Iniciativa Educação. Tais sugestões realçam formas de os adultos expandirem o significado dos textos a partir de interações sobre o conteúdo impresso, fazendo comentários e colocando questões, potenciando assim ainda mais a aquisição de novos conceitos e de novo vocabulário, como refere Grolig (2020). Enquanto período de convivência habitual e mais prolongada, o verão será certamente uma boa época para os pais lerem ainda mais frequentemente aos seus filhos.

Bibliografia

Duff, D., Tomblin, J. B., & Catts, H. (2015). The influence of reading on vocabulary growth: A case for a matthew effect. Journal of Speech, Language, and Hearing Research, 58 (3), 853–864. https://doi.org/10.1044/2015_jslhr-l-13-0310

Grolig, L. (2020). Shared Storybook Reading and Oral Language Development: A Bioecological Perspective. Frontiers in Psychology26(11), 1818. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2020.01818.

Stanovich, K. E. (2000). Progress in understanding reading: Scientific foundations and new frontiers. Guilford Press.

AUTORES

Luísa Araújo é doutorada em Educação pela Universidade de Delaware, onde estudou o bilinguismo e o ensino de uma língua materna e de uma segunda língua. É autora de diversas obras de investigação sobre didática do ensino da língua Portuguesa e de línguas estrangeiras. Foi professora nos Estados Unidos, tanto no ensino básico como no universitário, e investigadora no Joint Research Centre da Comissão Europeia, onde desenvolveu trabalho no âmbito das políticas europeias sobre educação. É professora coordenadora no ISEC Lisboa.

Patrícia Costa é professora no ISEC Lisboa - Instituto Superior de Educação e Ciências onde leciona estatística e matemática. É, também, investigadora na área de Estatística da Educação no Centro de Matemática Aplicada à Previsão e Decisão Económica (CEMAPRE). É doutorada na área de Estatística/Psicometria e completou o mestrado e licenciatura na área de Matemática.

A sua investigação foca-se em tópicos de Avaliação Educacional, Estatística Aplicada, Educação Comparativa e Psicometria. A maior parte da investigação que tem feito incide na análise estatística de bases de dados internacionais (por exemplo, PISA, PIAAC, PIRLS, ICCS, TIMSS, TALIS) e na validação de novos instrumentos e inquéritos.

Tem experiência de investigação e de prestação de apoio técnico a decisores políticos no Joint Research Centre (JRC) da Comissão Europeia, onde desenvolveu, entre outros, trabalho relacionado com a utilização e construção de bases de dados. É autora/co-autora de diversos artigos científicos em revistas internacionais, capítulos de livros e relatórios técnicos. Começou a sua vida profissional como professora do Ensino Básico e Secundário e tem experiência na lecionação de Matemática e Estatística no Ensino Superior.

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